COMUNHÃO AOS DIVORCIADOS: O PAPA FRANCISCO ESTÁ DILACERANDO A IGREJA
Publicado em 24 de setembro de 2014
Por Antonio Socci – Le cronache di Papa Francesco / Tradução: Dominus Est
Um importante príncipe da Igreja chegou a afirmar, diante de algumas pessoas de confiança, que estes são provavelmente os meses mais dramáticos de toda a história da Igreja. Que, todavia, em dois mil anos, passou por grandes tormentas. A gravidade da situação foge à maioria das pessoas. Ainda que os meios de comunicação estejam interessados pela controversa anunciada no Sínodo, que se iniciará em 5 de outubro, eles não entenderam corretamente as questões em jogo.
Para entender o que ocorre na Igreja, é preciso sair da luxuosa e auto-referencial corte vaticana de Santa Marta, povoada por alguns vaticanistas, eclesiásticos de carreira, camareiros e cortesões. É preciso ir às periferias existências.
Com efeito, é daí – segundo o relatório explosivo do cardeal Kasper no consistório de fevereiro (o relatório sobre a Eucaristia para os divorciados recasados, desejada por Bergoglio) – que chegaram até nós algumas palavras esclarecedoras.
Elas são de um missionário do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras), o padre Carlo Buzzi, 71 anos, milanês, há quarenta anos em Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo. Suas cartas foram publicadas por Sandro Magister em seu famoso site “Chiesa“.
O padre Buzzi é um homem de Deus extraordinário, ele tem consagrado sua vida a levar a Boa nova aos mais pobres, para eles, ele construiu escolas, ambulatórios, capelas, e ele os reconstruiu quando eles lhes destruíram. Frequentemente ele coloca em risco sua vida. Dessa periferia, ele comentou assim o relatório de Kasper no Consistório:
“Se se continuar no caminho traçado pelo cardeal Kasper, serão causados danos consideráveis:
1) Tornar-se-á a Igreja superficial e complacente;
2) Dever-se-á negar a infalibilidade da Cátedra de Pedro, pois isso será como se todos os papas precedentes tivessem se enganado;
3) Dever-se-á considerar como estúpidos todos aqueles que deram suas vidas como mártires para defender esse sacramento“.
O padre Buzzi acrescentou algumas considerações concretas:
“Há milhares de católicos que morrem todos os anos perseguidos por sua fé, e vivemos tranquilamente, nos preocupando obstinadamente com o acesso dos divorciados recasados à comunhão. Quantas pessoas foram martirizadas na Inglaterra porque elas queriam conservar sua fé na integralidade do sacramento do casamento?!“. “Ai da Igreja católica se ele seguir o mesmo caminho da Igreja anglicana“. Isso seria devastador. Logo, diz o velho missionário, “não criemos um cisma por causa de algo tão secundário“.
O padre Buzzi nota que “se dermos a comunhão aos recasados, isso significa que eles não precisam mais se confessar“. Daí, como em cascata, caem os sacramentos e os mandamentos. Logo, a Igreja em si: “Desta forma, explode tudo. Antigo e Novo Testamento“.
O velho missionário diz:
“Quero permanecer católico. Não quero me tornar anglicano ou batista“. Enfim sua conclusão surpreendente: “Vemos que os estados e as grandes organizações estão todas submissas a uma força misteriosa que tende ao mal. A única instituição que ela não consegue dobrar, que mantém a cabeça e permanece firme sobre os verdadeiros valores do homem é a Igreja católica. Resistamos e não turvemos a água da nossa fonte. Um dia, quando eles estiverem cansados e sedentos, muitos homens saberão onde encontrar um pouco de água fresca“.
Infelizmente, o papa Bergoglio, no lugar de escutar esses homens de Deus, que falam das periferias existências, prefere conversar com um poderoso guru de salão burguês como Scalfari ou – como ocorreu nesses dias – com a coqueluche dos salões da esquerda europeia, Alexis Tsipras, o líder do partido de extrema esquerda grego Syriza.
Ontem, um importante príncipe da Igreja, o cardeal Pell, utilizou os mesmos argumentos que o padre Buzzi.
Ele pediu para o Sínodo “a reafirmação da doutrina católica”, e sublinhou que a questão da comunhão aos divorciados recasados é – mesmo estatisticamente – algo secundário, mas que se tornou um“símbolo”, ou seja, uma bandeira ideológica.
É “uma questão no confronto entre o que resta do cristianismo na Europa e um neo-paganismo agressivo. Todos os adversários do cristianismo gostariam que a Igreja capitulasse nesse ponto”.
É muito importante ressaltar isso, porque realmente o que parece preocupar os da imprensa não é tanto pela condição de sofrimento de alguns casais (nesses casos, eles percorreriam outros caminhos que já foram identificados), mas a alteração de fato da doutrina católica através da pretensa “prática pastoral”.
A posição de Pell, contrária a Kasper e à “revolução”, é compartilhada pelos cardeais mais influentes, que têm feito declarações públicas espetaculares. Começando pelo prefeito do ex-Santo Ofício, Müller, o qual – em polêmica com Kasper – acaba de publicar um livro e que participou do famoso livro “dos cinco cardeais” (Caffara, Müller, Brandmuller, Burke e De Paolis). Quem indispôs de tal forma Kasper e Bergoglio.
Outras declarações oficiais em defesa da doutrina católica e contra a “viragem” vieram dos cardeais Collins, Martin, Ouellet e Scola.
Todos nomes importantes. E só estamos falando de declarações públicas, visto que estima-se que, no Consistório, 85% dos cardeais rejeitaram a tese de Kasper. Que protesta, todavia, que ele representaBergoglio:
“Falei duas vezes com o Santo Padre. Estava de acordo com ele sobre tudo. Ele estava de acordo. Eles sabem que não fiz essas coisas por mim mesmo. Concordei com o Papa”.
Com efeito. foi Bergoglio que o quis como único orador no Consistório, e foi ele que, de fato, o elogiou entusiasticamente enquanto que a maioria dos cardeais o rejeitaram. Kasper tem razão em indicar em Bergoglio o chefe dos “revolucionários”.
De resto, isso jamais foi desmentido. Bergoglio, já como bispo de Buenos Aires, em desobediência grave ao Papa e à Igreja, autorizava que se desse a Eucaristia a todos. Foi o padre Pepe Di Paola, o famoso “padre das ruas”, muito próximo dele, que disse isso tranquilamente, em uma entrevista ao “Il Resto del Carlino”, em 13 de março de 2014.
E, sem seguida, como bispo de Roma, em 23 de abril de 2014, Bergoglio deu o famoso telefonema a uma senhora argentina casada civilmente com um divorciado, ao longo do que ele lhe disse para “tomar tranquilamente a comunhão, porque ela não está fazendo nada errado”. Criando assim um caso sensacional. Logo Bergoglio está há muito tempo em seu próprio caminho, diferente da doutrina e do magistério da Igreja.
É por isso que a situação é explosiva. Nunca na história da Igreja ocorreu da maioria dos cardeais terem de tomar posições públicas contra uma inversão do magistério e da prática da Igreja, que foi proposta pelo cardeal Kasper, mas que, na realidade, vem do próprio Bergoglio. Nunca ocorreu de um bispo de Roma lutar por uma tese que vai contra toda a tradição e o magistério da Igreja. Todavia, cumprir essa subversão – como o disse o cardeal Pell – é completamente “impossível”(…)
Fonte:http://catolicosribeiraopreto.com/sobre-a-comunhao-aos-divorciados-o-papa-esta-dilacerando-a-igreja/
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