DE COMO O DEMÔNIO CHEGOU AO PAPADO
Segue abaixo artigo do Prof. Plinio Corrêa escrito para o jornal "Folha de São Paulo" em 1969, que mostra a existência de um "movimento profético" semiclandestino, enquistado na Santa Igreja Católica para a metamorfosear em uma hedionda Igreja-Nova, panteísta, amoral e comunistizante.
Por Plinio Corrêa de Oliveira
Folha de S. Paulo, 14 de maio de 1969
O leitor inteirado por meu último artigo, da existência de um “movimento profético” semiclandestino, enquistado na Santa Igreja Católica para a metamorfosear em uma hedionda Igreja-Nova, panteísta, amoral e comunistizante, se perguntará por certo quais os meios de ação usados por essa seita possante e estranha. Toda organização que imerge, mais ou menos profundamente, na clandestinidade, é obrigada, pela própria natureza das coisas, a usar meios subtis e complexos. Ao longo da presente exposição, procurarei tornar tão inteligíveis quanto possível, as técnicas requintadas usadas pelo “movimento profético”. Tomarei sempre como base o estudo publicado pela revista “Ecclesia”, de Madri (n.º 1423, de 11 de janeiro p.p.), acrescido de algumas observações e comentários meus.
* * *
Importa definir inicialmente as linhas gerais do tema.
O “movimento profético” tem em vista agir sobre os católicos. Ora, a atitude religiosa destes é determinada, antes de tudo, pela Hierarquia, mas também, depois desta, pelas personalidades de projeção no Clero e no laicato, bem como pela atmosfera reinante nas múltiplas instituições e obras católicas. Assim, para atuar sobre os meios religiosos, é necessário:
1 – infiltrar-se neles;
2 – isto feito, recrutar ali o maior número de adeptos;
3 – em seguida, incutir nestes as doutrinas e o espírito da Igreja-Nova: é a fase de “formação”;
4 – tomar de assalto, ladinamente, quantos postos de influência ou de mando consigam; e dar assim projeção às personalidades que lhes convenham;
5 – isto feito, impor à Igreja, por meio da subversão, as reformas de doutrina, estrutura e disciplina que a transformem em Igreja-Nova;
6 – consumar a vitória pelo expurgo, isto é, isolando, silenciando, difamando e, por fim, excluindo quantos não concordem com essa sinistra “renovação”.
A infiltração se faz destinando dois ou três ativistas para iniciarem o “serviço” na instituição ou no ambiente visado. O ativista mais adequado a este gênero de proselitismo deve ser pessoa de prática regular da religião, costumes que não choquem, jovial, otimista, e capaz de criar em torno de si uma atmosfera de inteira aceitação de tudo quanto é moderno.
Os ativistas dão início ao recrutamento anunciando debates ou círculos de estudo sobre temas simpáticos e atuais: a paz, por exemplo. Aparecem assim os primeiros neófitos. Estes, uma vez doutrinados, trarão outros. E a bola de neve irá se avolumando.
A fim de evitar desconfianças, é aconselhável convidar para as reuniões, de quando em vez, algum eclesiástico benévolo que abençoe e aplauda…
À medida que se faz o recrutamento, começa a “formação”. Esta se deve fazer, sobretudo no começo, com cuidados infinitos, para evitar que algum neófito se arrepie e delate o que ouviu. Com uma palavrinha de cá ou de lá, os ativistas vão aos poucos pondo em ridículo este ou aquele clérigo, esta ou aquela tradição ou hábito da Igreja, de modo a insuflar no ambiente o gosto sempre mais desabrido pela crítica e até pela agitação. Como uma labareda, as críticas e as reclamações acabam atingindo tudo; a doutrina, os sacramentos, a constituição divina e perene da Igreja, toda a sua legislação e disciplina. Nada há que não seja apontado como decrépito, bolorento, inaceitável pelo homem de hoje. O prurido de reformar e derrubar leva – por etapas – ao anseio de implantar exatamente o contrário do que hoje existe. E assim, o católico manipulado pelos “grupos proféticos” terá passado a ser o oposto do que fora, bem como a aspirar por uma Igreja-Nova que seja o contrário do que a igreja é, sempre foi… e jamais deixará de ser.
Bem entendido, alguns membros dos “grupos proféticos” se mostrarão refratários a essa “formação”. Neste caso, devem ser discretamente deixados de lado. Por cima deles, sem que o percebam, se formará um grupo de seletos, junto aos quais a “formação” poderá continuar mais fundo.
Como resultado, em pouco tempo o ambiente infiltrado ferve de agitações progressistas. Todas as formas de “desalienação” são impetuosamente reclamadas: dessacralização, desmitificação, compromisso, engajamento, são termos que fervilham por toda parte.
Como é inevitável, os mais ardidos dentre os progressistas são vistos pelos demais como mestres, líderes e heróis. E um élan da opinião coletiva, jeitosamente trabalhada, clama porque eles sejam investidos nos cargos de mando. Estão suscitados os líderes de projeção. E assim começa, em favor deles, o assalto a todos os cargos, grandes e pequenos. O primeiro passo é a subversão eclesiástica. Manifestos e desfiles de protesto, greves, ocupação de catedrais, tudo é feito para intimidar as autoridades eclesiásticas e os leigos refratários, arrastá-los às concessões sempre feitas para apaziguar (e que jamais apaziguam), e por fim para os colocar em situação tal que a única saída seja a demissão. No clima assim criado, tudo parece clamar pela nomeação, nos vários cargos de mando da entidade infiltrada, de um progressista. Ou pelo menos de um inocente útil do progressismo.
O expurgo final dos antiprogressistas é um golpe de vassoura tão simples que, para o descrever, basta o que já ficou dito de início.
* * *
Como vê o leitor, da infiltração inicial à vitória, há todo um processo com etapas perfeitamente definidas, em cada uma das quais se usam métodos específicos cuidadosamente estudados.
Ao longo do processo, a estrutura do “grupo profético” vai tomando a forma de uma pirâmide com um ápice de dirigentes que sabem tudo, e camadas de membros que sabem sucessivamente menos.
O que assegura uma tal unidade de métodos – e tão complexos – à miríade de “grupos proféticos” ora existentes? A pergunta sugere a suspeita veemente de uma direção geral.
O artigo de “Ecclesia” fornece mais um dado que nos leva à convicção da existência, na sombra, desta direção geral.
Quais os fins dessa direção? Antes de tudo, estimular, fiscalizar, orientar e ajudar a atuação de cada grupo no respectivo ambiente. Mas também, é óbvio, coordenar as atividades deste imenso conjunto de grupos para a insurreição geral e o ataque supremo à Igreja Católica considerada também em seu conjunto.
É o que deseja essa cúpula ignota. Só ela? E os comunistas não o desejam também? Em tal caso, o que é essa cúpula suprema? Uma cúpula autêntica? Ou um mero órgão executivo do comunismo, a servir de instrumento para deteriorar a opinião católica? A resposta já extravasaria dos limites deste artigo.
Fonte>http://ipco.org.br/ipco/da-infiltracao-a-subversao
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Os pequenos grupos e a "corrente profética"
O texto de "Ecclesia"
Advertência Preliminar
Este estudo não pretende dar uma visão exaustiva e total da "ideologia profética", mas apenas assinalar os aspectos que nos pareceram mais relevantes e fáceis de verificar, e que, por sua vez, podem proporcionar uma pequena ajuda para análises e estudos mais completos e profundos. Trata-se, pois, de uma modesta contribuição para um possível estudo sobre as correntes ideológicas, de caráter religioso, mais freqüentes ou espalhadas no mundo, e de cuja influência e presença a Espanha não se encontra isenta.
Para a exposição dos dados que no presente trabalho se transcrevem, tomados como principal referência as seguintes fontes: o centro IDO-C e a revista "Informations Catholiques Internationales" (que no texto apresentaremos, para abreviar, sob a sigla I.C.I.), ambos considerados como os principais sustentáculos do "movimento profético". O primeiro, enquanto fornece o conteúdo ideológico e elabora as linhas a seguir; e a segunda, enquanto, por sua extraordinária penetração nos meios católicos, difunde e propõe como exemplo as manifestações concretas desse "movimento profético".
Examinamos em primeiro lugar alguns aspectos da "corrente profética" que se assemelham notavelmente ao pensamento dos "teólogos da morte de Deus". Damos, a seguir, uma breve informação sobre os "grupos proféticos"; sua missão, natureza, etc., e seu desenvolvimento e manifestações concretas.
Resta-nos apenas tornar público o nosso agradecimento a todas as pessoas que colaboraram na preparação deste trabalho, cujo valor revela, por si mesmo, a competência delas e manifesta o ingente esforço que realizaram. Cremos, sinceramente, que prestaram um excelente serviço à Igreja, o que, ainda que fosse só isto, já seria merecedor do nosso mais sincero reconhecimento.
Conteúdo, estrutura e manifestações
I . Introdução
1 . Os pequenos grupos
Ao observar o panorama do apostolado leigo encontramos um fenômeno: o aparecimento e proliferação de pequenos grupos independentes, desligados de toda organização apostólica concreta (1).
Este fato pode obedecer, entre outras causas, à aspiração natural do homem moderno – inserto em uma sociedade de massas, em que amiúde e de infinitas formas se sente despersonalizado, diluído – de integrar-se em pequenas comunidades onde, em um clima de cálida amizade, sua individualidade, sua personalidade, seja reconhecida e valorizada, e encontre um meio de expressão através de uma participação responsável.
Junto a esta aspiração, é preciso assinalar também a tendência – bastante saliente em alguns setores – a repelir toda estrutura que implique numa organização complexa.
Deste ponto de vista, trata-se de tendências legítimas e respeitáveis, próprias de nossa época, que têm sua repercussão dentro da Igreja. Nela, e concretamente no campo do apostolado leigo, há uma multiplicidade de vocações, de opções, de formas, que são perfeitamente legítimas.
Por isso, os pequenos grupos podem ter sua razão de ser hoje em dia, e sua dinâmica pode até oferecer um meio de canalizar setores da Igreja até agora passivos, que não participariam de outro modo nas tarefas da evangelização.
É bem de ver que esta estrutura tem também seus riscos, que podem ser, entre outros:
desmembrar-se horizontalmente da comunidade e transformar-se num "ghetto" com complexo de elite;
viver e atuar à margem das necessidades da comunidade eclesial, constituindo um fator de desagregação na unidade da Igreja;
desvinvular-se da Hierarquia, de uma forma mais ou menos consciente.
Se estes riscos forem superados – através de uma conexão com as comunidades básicas da Igreja (paróquia, etc.), e de uma vigilante atenção e docilidade às orientações do Magistério (Papa, Bispos) – a fórmula será perfeitamente válida e enriquecedora, e não cremos que ofereça motivo algum de inquietação. Simplesmente coincide com tendências naturais que se inserem nos novos caminhos abertos pelo Vaticano II: o apostolado leigo.
Contudo, esta nova forma de inserção do apostolado leigo na Igreja apresenta – em um número crescente de casos – certas características realmente alarmantes, que merecem séria reflexão e estudo.
Com efeito, dentro da estrutura flexível dos pequenos grupos há alguns que se caracterizam por determinadas constantes, que os tornam inconfundíveis e os situam na órbita de uma "corrente", que corresponde a um sistema de pensamento e a certas atitudes concretas. Esta corrente se autodefine como "corrente profética" (2).
Dela – tanto em suas idéias, como em suas atitudes – participam, em maior ou menor grau e de maneira mais ou menos consciente, todos os membros destes grupos.
Isto se deve a que – apesar de sua aparente dispersão e variada fisionomia no âmbito da Igreja Universal – os grupos estão ligados entre si, tanto através de pessoas como de idéias e técnicas comuns. Ligações que, na maioria dos casos, não costumam ser percebidas por seus membros.
Entretanto, não quer isso dizer que a "corrente profética" se reduza apenas a esses grupos. São principalmente eles que a difundem, porém a corrente em si os ultrapassa amplamente, e chega a invadir setores cada vez mais dilatados da Igreja Universal.
Assim, graças ao dinamismo e às eficazes técnicas de difusão que caracterizam seus membros, logram estes introduzir-se nos seminários, organizações apostólicas, Ordens Religiosas, centros de pastoral, imprensa e editoras católicas, congressos, onde pessoalmente, ou através de figuras representativas do Clero e do laicato católico, realizam uma disseminação de idéias que são maravilhosamente aceitas no clima de "aggiornamento" pós-conciliar.
2 . Suas características
Entre as características mais salientes dos "grupos proféticos" encontram-se as seguintes:
Nascem esses grupos, de ordinário, não tanto por impulsos de uma vocação apostólica específica, quanto de uma confrontação mais ou menos visível com a Hierarquia Eclesiástica, que os leva a separar-se das organizações.
Constituem-se não como uma forma a mais de apostolado, mas como a única forma válida para dar testemunho e apresentar "a verdadeira face da Igreja".
Consideram-se especialmente assistidos pelos carismas do Espírito Santo – ao que atribuem sua assombrosa e "espontânea" proliferação em todos os continentes – para cumprir uma missão profética. Missão que consiste em denunciar a corrupção das estruturas da sociedade e da Igreja e em apresentar uma nova Igreja, adaptada às exigências de um mundo secularizado e de um laicato adulto (3).
Por isso consideram absolutamente necessário:
a) uma reforma radical, realizada pela "Igreja carismática" (laical), dos aspectos fundamentais da "Igreja-instituição": Magistério, teologia, moral, Sacramentos, liturgia, etc.;
b) a aceitação de que o único testemunho cristão válido diante dos homens é o "compromisso temporal encarnado", quer dizer, a colaboração com marxistas e membros de outras confissões cristãs para a "libertação dos oprimidos e explorados", recorrendo a toda classe de meios, inclusive a violência.
Distinguem-se por uma crítica acerba:
- de todo apostolado vinculado à Hierarquia, o qual consideram defasado, superado e incapaz de sintonizar com o mundo para dar uma resposta adequada às necessidades de nosso tempo;
- do Magistério. O fundamento destas críticas, que dirigem principalmente aos Bispos, e mesmo ao Papa e ao Concílio, se funda na resistência – segundo eles – do Episcopado da Igreja Universal a aceitar as novas idéias sobre a missão da Igreja no mundo e o compromisso temporal.
Estas características emprestam luz para se compreender o mais profundo de algumas situações que se estão produzindo hoje na Igreja.
Por exemplo, muitos pensam que as tensões, as "crises" que ocorrem atualmente no interior da Ação Católica de diferentes países (França, Itália, Bélgica, Espanha, etc.) se devem simplesmente a discrepâncias entre o Episcopado e os dirigentes mais "dinâmicos" a respeito da forma concreta de adaptação dos princípios fundamentais do apostolado leigo, formulados pelo Concílio, a diversas situações e países.
A realidade é bem diferente. O que é objeto de polêmica são esses mesmos princípios fundamentais. O que está em jogo é a essência mesma do apostolado leigo em seu conjunto. Não se trata de fazer um rigoroso reajuste das estruturas da Ação Católica, nem do acesso de outros movimentos a um nível de diálogo institucionalizado, nem do reconhecimento de outras formas de apostolado mais flexíveis.
Decididamente, trata-se da vinculação ou separação com referência à Hierarquia Eclesiástica, segundo esta aceite ou não determinados compromissos temporais. E isto afeta todos os setores do apostolado leigo, organizado ou não.
Esta separação é uma das características da "corrente profética". Seu objetivo a curto prazo é "a libertação de estruturas demasiado pesadas", a qual consiste em repelir o mandato hierárquico e criar "grupos proféticos" comprometidos na ação temporal.
Por trás desta fórmula inicial – que pretende aparecer como uma reforma necessária das estruturas do apostolado leigo organizado, na linha conciliar, para seu melhor enquadramento numa sociedade secularizada – está latente, entretanto, uma nova concepção da Igreja que opõe, de fato, a "Igreja comunidade de homens" à "Igreja instituição", e o "profetismo leigo" ao Magistério eclesiástico.
II – Conteúdo Ideológico da corrente profética
1 . Visão do Mundo
Em primeiro lugar, dedica-se um especial interesse ao descobrimento da realidade do mundo atual, como pressuposto indispensável para a desejada adaptação da Igreja a estas realidades.
Para descobrir "os sinais dos tempos" utilizam as modernas técnicas de investigação social: sociologia e estatística. Esta utilização, que é necessária, padece, neste caso, de alguns vícios fundamentais:
Por um lado, prescinde-se de qualquer outro tipo de realidades que não possam ser captadas ou explicadas através destas técnicas. O resultado é que, exorbitando de um realismo necessário, utilizam-se exclusivamente critérios sócio-políticos ao focalizar as realidades da própria Igreja, o que desemboca fatalmente em um relativismo.
Com a agravante de que muitos dos inquéritos que promovem não se limitam a sondar e recolher uma opinião, mas estão claramente dirigidos a CRIÁ-LA em um determinado sentido que interessa ao pesquisador. As perguntas costumam ser elaboradas de tal forma que põem o entrevistado na alternativa de decidir-se por algo de arcaico e superado ou pela resposta exata que os pesquisadores querem obter e que sempre se apresenta como "a atraente". O resultado é óbvio: diante de algo que se faz de forma apressada e sem tempo para refletir, ou versando temas que não se conhecem a fundo, preferimos todos hoje em dia passar por "avançados" e não como "retrógrados".
Por outra parte, dá-se a estas ciências um valor tão absoluto, que de indicativas se convertem em normativas. Ao apontar certos fatos, sublinham "o que é", e diante disto não cabe sequer cogitar "o que deveria ser"; simplesmente, "o que é" é igual a "o que deveria ser".
Já não se trata de que estas ciências possam indicar-nos, entre outras coisas, "os sinais dos tempos", senão que indefectivelmente tudo o que elas indicam são "os sinais dos tempos" (no sentido de um "sinal" que deve ser recolhido e aceito pela Igreja).
Em conseqüência, tudo o que elas indicam são "processos inelutáveis", que não admitem oposição nem reajuste, mas que, pelo contrário, impõem uma mudança e uma adaptação. À vista disso, como veremos mais adiante, não se deve tentar, por exemplo, "ressacralizar o mundo", mas "dessacralizar a religião"(4).
O ateísmo e secularização
Como resultado deste estudo do mundo, encontram-se eles diante de um fato evidente: o fenômeno maciço do ateísmo. Esta realidade inegável se generaliza e radicaliza de tal forma, que chegam à conclusão de que o homem é hoje essencialmente ateu, repele toda religião e só admite ajuda para promover-se cultural e socialmente. Aprofundando as causas do ateísmo, resumem-nas dizendo que se trata de um fenômeno coerente e lógico e que corresponde em sua totalidade ao "contra-testemunho" dado pelos cristãos, tanto individual, como comunitariamente.
- "O mundo não é ateu por sua culpa, mas por nossa culpa".
- "Fizemos de nosso Deus e de nossa Igreja um espantalho, o qual é lógico que desprezem aqueles que amam a sinceridade, a liberdade, a responsabilidade, e ao qual contudo permanecemos fiéis, para vergonha nossa".
- "Desfiguramos de tal modo a face da Igreja, que Ela não pode ser aceita pelos homens".
- "Em lugar de apresentar um Deus vivo, encarnado, realista, nós cristãos alimentamos com tanta freqüência de lendas e mitos religiosos, que temos sido incapazes de convencer" (5).
Por outro lado, afirmam que o ateísmo pode tornar-se um fato positivo: mais do que de "perda de fé", dever-se-ia falar de um processo de purificação e de maturidade. O homem de hoje, liberado pelo progresso científico de um estado ancestral de mitificação, substitui os mitos religiosos por algo mais racional, portanto mais em consonância com sua natureza.
A figura do ateu adquire aos olhos deles uma nova dimensão. Não se trata de uma pessoa diminuída e incompleta, como se nos fez crer repetidamente. Pelo contrário, aparece amiúde como um homem "de elevada estatura" que "caminha na vanguarda", que tem a coragem de viver encarando seus problemas e os do mundo, sem a ajuda de "Um Deus suporte" ou "um Deus explicação".
Esta admiração leva-os a se perguntarem em que se diferencia um cristão de um ateu. Sua resposta é desconcertante: - "Várias vezes temos tocado neste ponto, nas discussões, sem haver obtido respostas satisfatórias" (6).
A valorização do ateu estende-se também ao ideal moderno e ateu do mundo; um ideal que consideram ter alcançado metas diante das quais os cristão temos fracassado estrepitosamente, e que cedo ou tarde acabará por se impor.
Essa sensação de frustração, junto com a valorização da eficácia imediata, é a causa do deslumbramento deles diante do marxismo, que os leva a aceitar uma colaboração estável nas tarefas de transformação da sociedade, especialmente no campo sindical e político.
A conclusão desta análise é que o ateísmo não é, afinal, senão um processo de secularização.
Seu conceito de secularização não se limita a:
reconhecimento da autonomia das leis naturais;
valorização, em justa medida, das realidades temporais, sem referências ou explicações pseudo-sagradas ou pseudo-religiosas;
supressão dos abusos em que o homem e o cristão tenham podido cair em determinadas épocas ou situações;
mas entendem a secularização como uma supressão radical, por defasagem, de tudo o que signifique sinal ou presença, no mundo, de outras realidade de ordem superior às puramente humanas, naturais, comuns a todos os homens e aceitáveis por todos (7).
Neste mundo secularizado, a única possibilidade de aproximação da Igreja ao homem encontrar-se-á na realização de um humanismo coincidente com o que praticam outros grupos de diferente sinal.
A conseqüência da análise deles é, portanto, que a Igreja tem que ser objeto de uma reforma drástica, para estar em condições de adaptar-se ao mundo atual que dela exige:
novos compromissos;
novas estruturas;
um novo conceito de evangelização (8).
2 . Crítica da Igreja
O pressuposto indispensável para a edificação da "nova Igreja" é a crítica, porque:
traz a convicção de que a corrupção atual da Igreja exige uma mudança radical;
evidencia que a reforma tem que partir dos leigos, porque nada há que esperar da Hieraquia.
Esta crítica – acompanhada, em certas ocasiões, por atos clamorosos de "contestação" (protesto global) – desperta com freqüência certo receio pelo seu radicalismo (9).
Por isso tratam de justificá-la
enquadrando-a em um clima de profunda inquietação pela sobrevivência da Igreja, à beira – segundo eles – do fracasso "por haver traído sua missão";
considerando-a sinal inequívoco de vitalidade, em uma Igreja de adultos que superou a fase de "passividade bovina" dos leigos (10).
Por outra parte, como se baseia algumas vezes em fatos certos ou meias-verdades, essa crítica é aceita facilmente, chegando a ser assimilada até em seus aspectos mais corrosivos.
Longe de impelir a quem a escuta à edificação da "nova Igreja", esta crítica conduz em muitos casos a uma situação de amargura, frustração e ressentimento, que termina na ruptura total com a comunidade eclesial (11).
Os promotores da "corrente profética" dão-se conta desta realidade, porém não se abalam. Segundo eles, os que não são capazes de superar este choque e depurar sua fé, pertencem às "massas alienadas" que cedo ou tarde se irão afastando, ficando assim a Igreja reduzida a uma pequena minoria sem triunfalismos nem manifestações de poder (12).
Todo o passado da Igreja, analisado com critérios sócio-políticos, é julgado de maneira desapiedada e negativa.
Para eles a Igreja começa a corromper-Se a partir de Constantino, e todo o seu desenvolvimento posterior foi condicionado por esse fato.
Assim, uma Igreja escondida, de catacumbas, se converte em:
uma Igreja enfeudada ao Estado e triunfalista: o Cristianismo ocidental, mantido unicamente por sustentáculos oficiais e externos, conduziu a uma religião mitificada. A cristandade foi um produto, não da fé, mas da alienação política;
uma Igreja dominada: - por um paternalismo providencialista; - por um paternalismo clerical, que foi a causa do infantilismo dos leigos;
uma Igreja regida por um Magistério cheio de abusos e contradições, que não só não respeitou a autonomia da consciência individual, mas também "constrangeu o mundo" obrigando-o a caminhar conforme a "nossa verdade" (13);
uma Igreja desumanizada. Ao fundamentar o amor aos homens no amor a Deus, traiu o amor ao homem por si mesmo. "Para amar o homem era preciso romper com a Igreja";
uma Igreja rígida e inflexível, que nos momentos cruciais de sua história antepos suas estruturas ao "espírito". "Na Reforma os protestantes levaram consigo o Espírito Santo e a palavra. Nós ficamos com a hierarquia e o rito";
uma Igreja estabelecida, com toda uma rede de instituições e organizações "confessionais" que impedem hoje o desenvolvimento de um compromisso missionário comprometido;
uma Igreja, enfim, que em toda a sua história não pôde trazer quase nada de positivo à humanidade:
"Há séculos que não fazemos mais do que fracassar, e não pensamos senão em presumir. Fracassamos na virada republicana democrática; fracassamos na questão social; fracassamos na questão bíblica... ". "O fracasso das missões católicas é tragicamente evidente".
"A questão da ciência moderna, da filosofia moderna, das técnicas modernas, é coisa que temos ignorado ou menoscabado a ponto de parecer que não estamos no mundo".
"A história deste dois últimos séculos não é antes de tudo, como pensam muitos historiadores católicos, a revolução do homem contra Deus, mas a resistência empedernida que alguns cristãos conservadores, preguiçosos e tirânicos, retardatários em política, em economia, sociologia, ciência, filosofia, e mesmo em teologia, exegese, liturgia e Deus sabe quanta coisa mais, opuseram a todos os que queriam avançar" (14).
As censuras recaem de modo especial sobre os Bispos, já que, segundo os "proféticos", são os responsáveis pelo emperramento da Igreja, porque "longe de comprometer-se com os problemas de nosso tempo constituem o maior obstáculo para a renovação".
Formulam suas acusações do seguinte modo:
a maioridade e o dinamismo atual dos leigos dá-lhes uma nova visão do testemunho e do compromisso temporal;
em uma sociedade secularizada é utópico tentar a conquista dos ambientes por dentro, tal como propugnou Cardijn. Hoje o cristão deve aceitar a sociedade secularizada tal como é, mesclar-se com todos os homens, sem distinguir-se deles em nada. Em conseqüência, é preciso rejeitar inteiramente as ações ou grupos confessionais, isto é, que levem a etiqueta de cristãos;
por conseguinte, o único compromisso temporal válido, o único testemunho, é o engajamento com qualquer grupo que pretenda elevar a condição dos oprimidos. O compromisso tem que ser tão radical, que não vacile em chegar a uma revolução violenta (15);
a Hierarquia deveria apoiar esta nova concepção do compromisso temporal, e impulsionar as organizações e adotá-lo, para não servir de obstáculo à marcha da História. Mas não o faz: - porque está defasada; - ancorada em posições superadas; - atada por compromissos constantinianos.
Sua atitude apolítica não é, no fundo, senão "uma forma larvada de conservadorismo". Seu quietismo pode ser interpretado como "a aceitação da desordem estabelecida". Ao aferrar-se a estruturas arcaicas, como o mandato hierárquico, se opões, de fato, à renovação do apostolado leigo (16). O ideal desta situação é libertar as organizações do controle da Hierarquia. Mas amiúde isto não é possível, pelo que se impõe a necessidade de abandoná-las para constituir grupos flexíveis, com plena liberdade de movimento à hora de assumir compromissos temporais (17). Ver anexo 1 sobre "a crise da Ação Católica" francesa e o nascimento da JUC.
Sobre o Concilio opinam que foi uma esperança, mas ficou de tal modo a meio caminho, que já está superado:
a Igreja não chegou a Se comprometer. Insinuaram-se soluções, mas sem aprofundar para chegar a suas últimas conseqüências. De fato, a Hierarquia não saiu de seu tradicional imobilismo, salvo raras exceções, e não se deu aos leigos a ocasião de se expressarem amplamente;
isso obriga os cristãos adultos a manterem-se em tensão e preparar um novo Concílio, no qual uma ampla e dinâmica representação leiga qualificada faça saltar a barreira que separa a Igreja do mundo (18).
As críticas ao Concílio se dirigem especialmente ao Decreto sobre o Apostolado dos Leigos, que consideram "um documento conciliar de segunda ordem que não terá grande futuro", e que deve sua existência à cobertura de Episcopados que queriam a todo custo conservar as estruturas existentes (Alemanha, França, Espanha).
Atribuem ao Decreto duas falhas importantes:
a ratificação do mandato hierárquico;
o estabelecimento de uma dualidade temporal-espiritual hoje superada.
Os juízos que eles fazem a respeito do mandato são os seguintes:
prejudica a noção de responsabilidade do leigo na Igreja;
o laicato a ele sujeito está destinado a ser um "interlocutor submisso" de uma Hierarquia que, em lugar de chegar a um diálogo, prossegue seu monólogo;
se há alguns dirigentes que o admitem, é "pelo prestígio e vantagens morais que proporciona a submissão à Hierarquia". (Ver nota 19) .
A respeito do dualismo temporal-espiritual (20) :
negam que a ação temporal tenha que ser inspirado por princípios cristãos;
negam que o apostolado leigo tenha uma missão direta e propriamente evangelizadora . quando muito, esta ação diretamente evangelizadora só terá lugar quando os problemas mais urgentes da humanidade (fome, justiça, desenvolvimento) estiverem solucionados;
identificam história da salvação e história cósmica, reino de Deus e progresso da civilização. Acham que o crescimento da humanidade – segundo seu próprio movimento – é o crescimento do Corpo Místico de Cristo.
3 . Igreja-Nova
O exame da situação e a crítica põem da manifesto um fato evidente: que a Igreja, tal como está, não é válida em um mundo novo. Portanto, se quer servir ao homem de hoje, não tem Ela outro remédio senão "romper suas estruturas e entrar na via da secularização".
Sentem-se eles chamados, portanto, a uma apaixonante tarefa: reformar a Igreja, dar-lhe "uma nova face". Esta reforma implica em: - um novo conceito de Igreja; - com certos novos conteúdos; - uma radical revisão de alguns aspectos concretos; - e uma democratização, como único meio de realizar tal reforma.
A ) Novo conceito de Igreja
"As críticas, os apelos, as exigências dos ateus, traçam-nos um autêntico programa ao mostrar os traços que deveriam caracterizar e caracterizam a verdadeira Igreja do verdadeiro Deus" (21).
Para responder a estas críticas e seguir este programa, e para poder subsistir em um mundo secularizado – ateizado – a única possibilidade que tem a igreja é a "forma profética".
Esta forma implica em um conceito revolucionário de Igreja:
o requisito fundamental para pertencer a ela é amar o homem e comprometer-se na luta sócio-política por sua libertação. "O principal para nós é nosso compromisso militante revolucionário";
o conceito que se tenha da religião (valor supremo ou alienação, a relação com Deus (negação indiferente ou ataque direto), a atitude perante o crente (respeito ou proselitismo ateu), são questões secundárias;
o que uma pessoa pense de Deus não tem importância, desde que ela se preocupe com seus semelhantes. Na realidade, quem ama o homem está amando a Deus, ainda que creia estar lutando contra Ele;
por isso, um ateu, um comunista que está lutando pelo homem, forma parte da Igreja profética com maior plenitude do que um batizado que não se compromete na luta revolucionária.
B ) Novos conteúdos
Uma Igreja pobre, uma Igreja dos pobres
1 – A primeira riqueza de que deve ser despojada a Igreja é "a insuportável suficiência de possuir a Verdade" (22).
Durante séculos temos fabricado para nós mesmos "um Deus explicação" de tudo quanto existe, "um Deus suporte" da debilidade humana. Temos utilizado a religião como morfina. Temos apresentado a Verdade como um bloco monolítico e granítico.
Temos feito da educação religiosa uma couraça de proteção que nos tem colocado em uma atitude "ofensiva": evitar de sermos seduzidos, conservando porém a capacidade de seduzir.
Em face desta suficiência superada – que encobre um infantilismo larvado – impõe-se hoje um novo tipo de cristão maduro e adulto:
que sabe que não existe a Verdade, mas "minha verdade e a sua verdade";
que aceita a dúvida, a insegurança, a obscuridade, a vacilação;
que caminha desarmado, vulnerável, nu, aberto, estendendo sua mão amiga a todos os homens;
que não provoca os demais com a riqueza de sua fé e sua segurança.
Em uma palavra, um verdadeiro "pobre". Pobre é aquele com o qual todos se encontram à vontade, porque considera que não tem riqueza alguma para comunicar e está sempre disposto a receber.
2 – Do mesmo modo, a Igreja não será pobre, não estará preparada para entrar pela via da secularização, enquanto não se desprender de "suas catedrais", de suas instituições, de suas obras; enquanto não abandonar toda manifestação externa, maciça, organizada.
a ) Em conseqüência, a Igreja deve desprender-se de suas instituições docentes em todos os níveis (23):
- "a Universidade católica é um obstáculo para a evangelização";
- "a escola confessional é um germe de divisão que se opõe à fraternidade universal";
- "o ensino, em geral, deve ser laico, neutro. As Ordens Religiosas que até agora se têm consagrado a este trabalho limitar-se-ão a exercer uma função puramente cultural, adotando um gênero de vida laico".
b ) As obras assistenciais da Igreja (beneficentes, culturais, formativas, etc.) devem limitar-se a atuar na linha de um simples humanismo no qual se pratique a ajuda ao homem pelo homem, sem nenhuma referência de tipo religioso (24).
c ) As organizações apostólicas encontram-se diante de uma alternativa:
- ou substituir uma ação evangelizadora defasada, por um compromisso temporal totalmente desconfessionalizado, isto é, por um compromisso temporal revolucionário,
d ) Os cristãos devem abandonar toda ação política ou social que implique na defesa de uma concepção de sociedade conforme os princípios cristãos.
Por conseguinte, deve ser repelido qualquer tipo de partido político ou sindicato confessional que impeça ou dificulte a união dos cristãos com os demais homens, especialmente com os marxistas (26).
Igreja encarnada, dessacralizada, desmitificada, antropologizada
Reduzida a pequenas comunidades, sem manifestações de poder, sem idealismos nem triunfalismos.
Comprometida na luta pelos pobres, dando seus membros, exclusivamente, uma resposta aos problemas da fome, da justiça, do desenvolvimento.
Afastada da filosofia do passado. Dando testemunho, não pela palavra e pelo culto, mas pela ação e pelo compromisso temporal: "justiça social e amor aos demais, e nada de cultos idolátricos".
Igreja livre, sem compromissos constantinianos. Isto é, desvinculada totalmente do poder temporal, de tal maneira que prescinda não só de concordatas, mas de qualquer tipo de relação de caráter estável.
A colaboração e participação dos cristãos nos governos dos países capitalistas (ocidentais) considera-se como um compromisso com a "desordem estabelecida", e deve ser substituída por uma ação de oposição e guerrilha, procedente de uma Igreja "nas catacumbas".
Essa norma só é válida nos países ocidentais. Nos socialistas, pelo contrário, a Igreja enquanto Igreja, e os cristãos enquanto cristãos, devem colaborar com o regime de sua nação e ocupar postos no governo.
Especialmente os alemães têm uma missão histórica providencial: servir de ponte entre o Leste e o Oeste, reconciliar as duas Alemanhas através da reconciliação de cristãos e comunistas dentro da "Igreja profética" (27).
Igreja carismática
Conduzida e dirigida, não pelo Magistério hierárquico, mas pelos "carismas" que se manifestam preferentemente na Igreja laical.
Pelo fato de ser batizado, o leigo recebe do Espírito Santo certos carismas que escapam por si mesmos ao julgamento e à avaliação da Igreja hierárquica.
Esta independência foi posta de lado e sufocada na Igreja, especialmente a partir da Reforma protestante e como reação conta ela. Somente depois de quatro séculos, no Vaticano II, a Igreja reconheceu seu erro.
Contudo, o Magistério continua opondo resistência à aceitação do "profetismo leigo" com todas as suas conseqüências.
Isto torna necessário que os leigos unidos reivindiquem, perante a Igreja institucional, seu autêntico direito de fiscalizar as decisões últimas do Magistério; de tal maneira que este não possa adotar nenhuma atitude que vá contra o sentir geral dos leigos (28).
C ) Revisão radical de alguns aspectos concretos
A moral tradicional do passado, casuística, impregnada de "tabus" e de sentido do pecado, delimitada em normas concretas, deve ser superada por uma nova moral, mais ampla e geral, para homens maduros, livres.
O Cristianismo é apenas uma atitude vital, uma ética que emana da consideração e apresentação de Jesus Cristo como homem perfeito, uma antropologia, uma moral social.
A consciência individual, segundo a situação concreta de cada homem, tem primazia absoluta sobre qualquer norma objetiva. A Igreja não deve intrometer-Se ditando normas ou princípios gerais sobre problemas concretos.
O Direito Canônico não deve ser reformado, mas eliminado.
A moral cristã deve ser reformada pelo leigo, não pela Hierarquia (Papa, Bispos, Sacerdotes), que por causa do celibato e de seu afastamento dos problemas do mundo não estão capacitados a enfrentar algumas das questões mais candentes.
Os sacramentos
A Criação e a Encarnação são os dois fatos fundamentais da história da salvação. Através deles Deus purificou, dignificou e realçou de tal modo a matéria (o mundo) e o homem, que estes são os dois únicos "sacramentos" importantes.
Tudo o que importe em acrescentar, superpor algo a esta elevação do mundo e do homem, é sacralizar, mitificar, diminuir a autonomia da ordem do criado.
Em conseqüência, os Sacramentos cristãos não acrescentam nada de novo, ou acrescentam muito pouco. E assim não se pode dizer que o primeiro ato religioso do homem seja o batismo, mas, simplesmente, o seu nascimento (30).
A administração do Batismo às crianças representa um desrespeito à dignidade e à liberdade da pessoa humana. Cada qual deve decidir a respeito do batismo quando tiver maturidade para entender os compromissos que este Sacramento encerra.
A Penitência é posta em questão pelo cristão, já que, tal como se pratica, ela é algo de estranho e intolerável para o homem de hoje. Deve ser substituída por liturgias penitenciais coletivas. A única coisa que importa é que o homem se reconheça pecador e adote uma atitude de pecador. A acusação dos pecados ao Sacerdote é um acréscimo, algo que inventamos por masoquismo, por afã de incorporar à nossa religião tudo o que seja desagradável (31).
A Missa purifica, justifica por si mesma o homem que se acha em pecado mortal, sem necessidade de confissão.
As homilias coletivas são a melhor maneira de levar à Igreja, na livre confrontação e discussão dos leigos, todos os problemas que atualmente se suscitam no mundo e na Igreja (doutrinários, teológicos, políticos, sociais, etc.) (32).
O vínculo matrimonial fica automaticamente rompido com o desaparecimento do amor.
Em caso de separação, o cônjuge inocente deve ser autorizado pela Igreja a contrair novas núpcias (33).
Os votos religiosos supõem uma "consagração" hoje superada, que separa do mundo os que a realizam, alienando assim grandes massas da Igreja. Eles despersonalizam e desumanizam, criando o tipo de Religioso fechado às realidades temporais. Sobretudo, são as Freiras uma nota anacrônica na sociedade secularizada do século XX.
O celibato cria um tipo de pessoa tarada, assexual, realmente repelente. Deve ser abolido e os Padres devem casar-se para evitar, desta forma, a consideração da sexualidade e do matrimônio como algo de imperfeito.
As causas do abandono maciço do sacerdócio, que hoje presenciamos, são:
o desalento ante a lentidão das reformas sociais e eclesiásticas, por parte da Igreja;
o molde asfixiante de Padre que o Concílio ratificou: "Recrutar homens jovens e generosos para metê-los no molde do Padre como o define o Concílio Vaticano II acabará sendo uma ofensa à moral pública".
O termo "consagração" está superado; deve ser substituído pelo de "ordenação" e pela consideração do Sacerdote como funcionário ao serviço do povo de Deus e de todos os homens.
As diferenças entre Sacerdote e leigo devem ser superadas, dessacralizando-se assim a figura do Sacerdote ao considerá-lo como "leigo ordenado".
O Sacerdote dedicará somente meia jornada ao seu ministério, empregando o resto do dia em algum trabalho manual ou atividade profissional. Isto por razões econômicas e de eficácia pastoral (34).
O aspirante ao sacerdócio deve ser formado nos "grupos proféticos". Começará assistindo como membro, para exercitar-se mais tarde no diaconato e chegar por fim ao sacerdócio, depois de fazer estudos de teologia em regime de externato.
Portanto, os Seminários devem ser suprimidos (35).
O culto e a paróquia (36)
A paróquia deve prescindir de todas as atividades organizadas sob sua tutela: escola, patronatos, obras de caridade, bibliotecas, clubes esportivos, etc.
Isto não quer dizer que os cristãos devam desinteressar-se de todas estas atividades e formas de ação. O que antes faziam como membros da paróquia, eles o farão depois em instituições estatais, em colaboração com os não crentes.
A paróquia se fraciona em pequenos grupos, cujos membros se integram livremente, segundo suas afinidades e compromissos temporais: "Eu não experimento o sentimento de ser Igreja senão quando tomo parte em uma reunião restrita de amigos, na qual rezamos e trabalhamos juntos, unidos por um mínimo de opções comuns".
Os grupos se reúnem em casas particulares, onde celebram a Eucaristia sentados ao redor de uma mesa, depois de uma ceia frugal.
Celebram-se estas Missas em um clima de manifesta "dessacralização": o Sacerdote prescinde de seus paramentos, consagra pedaços de pão comum, do qual todos comem, e vinho comum em uma taça grande, da qual todos bebem.
A liturgia está sujeita à livre criação, segundo a inspiração de cada um.
O templo não é necessário. Encontra-se a Deus nos homens, e não no templo.
A igreja não deve ser considerada como um lugar sagrado, como "casa de Deus". Por ser "casa do povo de Deus", o templo deve ser utilizado, a serviço do povo, para outros usos profanos (sala de leitura, conferências, reuniões...), e estar aberto a todos os homens, sem discriminações ideológicas.
D ) A democratização (37)
O único meio para que a Igreja adquira esta "nova face" é "a democratização radical", já que, diante de uma Hierarquia sempre remissa, só a pressão dos leigos pode tornar realidade as mudanças necessárias.
Esta democratização da Igreja supõe:
1 – que o "sensus fidelium" condicione de maneira efetiva as decisões da Hierarquia;
2 – a criação de "órgãos institucionalizados" de leigos que: - sejam os únicos porta-vozes do "sensus fidelium"; - tornem possível a existência de um autêntico "co-governo", elaborando, paralelamente à Hierarquia, as decisões e orientações pastorais de toda a Igreja. Isto será possível quando se constituir uma organização mundial de leigos, com força suficiente para colocar-se diante da Hierarquia em pé de igualdade. As minorias proféticas é que, por seus carismas, seu dinamismo e sua situação nos postos-chave dos órgãos de captação da opinião pública da Igreja, são chamadas a ocupar os postos representativos nos órgãos de diálogo institucionalizados, como porta-vozes das aspirações do povo de Deus;
3 – a participação dos leigos na eleição de cargos, especialmente dos Bispos. Se os privilégios estatais neste terreno representam uma ingerência inaceitável, tampouco é conveniente deixar esta questão nas mãos das Conferências Episcopais, que poderiam ser igualmente sectárias;
4 – acesso dos leigos à vida interna da Igreja, no que se refere à informação, mesmo nas questões até agora reservadas às mais altas esferas hierárquicas. A informação deve ser acessível em todos os níveis, mediante uma publicidade total.
III . Os Grupos Proféticos
1 . Sua missão histórica segundo a corrente profética
"O apostolado leigo organizado chegou hoje ao momento de sua libertação de estruturas demasiado pesadas, ao momento da desencarnação temporal, para encontrar uma forma profética com vistas a novos compromissos".
Por conseguinte, a evolução do apostolado leigo no sentido da formação de grupos proféticos é um fenômeno que se enquadra no processo de avanço inelutável da História, e que seria inútil querer deter.
Nesta evolução, a primeira etapa – antes da segunda Guerra Mundial – foi a etapa das "obras católicas", que pretendiam preservar o mundo cristão do processo de secularização. Nesta etapa se desenvolve a Ação Católica unitária.
Em um segundo momento, a Igreja pretende passar à ofensiva, reconquistando os ambientes por dentro. Para isso nascem os movimentos especializados. Estes movimentos, porém – que alcançaram seu zênite de dinamismo pouco antes da segunda Guerra Mundial – iniciam depois desta sua curva descendente e começa-se a falar da crise da Ação Católica".
O pós-guerra é a hora dos movimentos proféticos, que não tratam de conquistar os ambientes, mas de aceitar a sociedade secularizada, adaptando-se a ela (38).
Esta evolução natural explica sociologicamente a assombrosa proliferação dos grupos proféticos não só na Europa (Alemanha Federal e do Leste, Bélgica, França, Itália, Espanha, Holanda, etc.) como também na América do Norte e do Sul e nos países do terceiro-mundo.
Nestes, o movimento profético está muito desenvolvido graças ao impulso dado aos grupos "Ad Lucem", com sede na França, pelo seu dirigente internacional Louis Evely.
Estes grupos orientam sua ação para os países asiáticos e africanos e contam, há vinte anos de seu nascimento, com membros em mais de vinte nações (39).
Atualmente são muitos os movimentos de Ação Católica que evoluíram rumo ao profetismo; e espera-se que outros tantos, entre os quais se contam os da Espanha, sigam seu exemplo muito em breve (40).
2 . Natureza e estrutura
São grupos muito flexíveis, criados pela influência de um leigo, um Sacerdote "profeta" ou uma revista, e fortemente apoiados em nível internacional por organismos tão potentes como o IDO-C.
(A revista IDO-C publicou em maio de 1967 um número dedicado a uma conferência de seu co-fundador, Jean Grotaers, na qual este assinalava como a tarefa primordial dos participantes do III Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos: libertar o apostolado leigo de "estruturas demasiado pesadas", desvinculando-se da Hierarquia "para constituir grupos proféticos").
Nos "grupos proféticos" integram-se indistintamente católicos, protestantes e marxistas, unidos por um compromisso temporal "encarnado" de interesse comum.
Os membros dos "grupos proféticos" são homens e mulheres, solteiros ou casados, de todas as idades e condições sociais; em sua maioria são técnicos de grande competência que se dedicam a diferentes profissões e carreiras. Entre eles há Sacerdotes, mas estes trabalham como os leigos; são, segundo eles, "leigos ordenados".
Caracterizam-se por relações, não de paternalismo, mas de fraternidade, animados por uma equipe profética na qual a distinção entre o Clero e o laicato acha-se superada.
Não são grupos isolados. Na conferência aludida, Grotaers falava de uma reunião de fim de semana na Bélgica flamenga., na qual tomara parte; nela, os grupos de intelectuais participantes (vinte) ficaram ligados entre si.
Tampouco se acham sempre à margem do apostolado organizado. Podem surgir e constituir-se no seio das próprias organizações apostólicas. Neste caso sua missão consiste em ascender aos órgãos diretivos para imprimir à organização o "sinal profético".
3 . Reuniões e técnicas
a ) Cada grupo se constitui por meio de um "profeta" – leigo ou "leigo ordenado" – com três ou quatro pessoas, de preferência operários e estudantes. Também casais, etc.
b ) Numa primeira etapa busca-se com grande interesse a "confessionalidade", isto é, a cobertura real ou aparente da paróquia ou de qualquer outra organização ou edifício religioso ou apostólico. Inclusive, em certas ocasiões, convida-se o Bispo para uma reunião, a fim de que abençoe a "obra", permitindo que ela se estabeleça na Diocese. Isto é necessário para não "espantar" os simpatizantes. "Ainda temos pouca força e é preciso contar com o apoio do Bispo e do Pároco para dar os primeiros passos, porém mais tarde se prescindirá disto". "Ninguém suspeita de nada, ninguém receia nada, porque isto nasce dentro da Igreja".
c ) As primeiras reuniões são orientadas no sentido de atrair possíveis membros. Adotam, em geral, a forma de uma "liturgia da palavra" realizada em um clima de amizade, na qual tratam de temas tão atraentes como a caridade, a paz, etc., tendo por base leituras bíblicas, cânticos e a recitação de Salmos, acompanhados de um colóquio final.
d ) Depois se organiza e se propõe uma convivência, para a qual se convidam as pessoas mais "inquietas" e "impressionadas". Nesta convivência procura-se obter a "conversão", isto é:
o reconhecer-se pecador por não ter vivido a caridade e ter uma falsa religião;
não basta um reconhecimento individual, é necessário tomar também consciência dos pecados da Igreja;
é preciso humilhar-se e tomar uma atitude pobre. Adquirir a consciência de ser um pobre em uma Igreja de pobres;
pedir perdão. Ao ser aceito na comunidade pelos irmãos e começar a mar, tudo fica perdoado.
e ) Há também um catecumenato. Para assistir a ele é necessário ir "em branco". Esquecer todo vestígio dessa falsa religião superada. Isto é imprescindível para abrir-se aos demais e amá-los na nova Igreja. Se falta esta plasticidade receptiva, o novo membro é convidado de uma ou outra forma a abandonar o grupo.
f ) Com relação ao Magistério e à Hierarquia, a atitude é evolutiva, de acordo com um processo de radicalização:
em um primeiro momento se omite toda referência a ela. A "caridade", a "paz", etc., ocupam todo o tempo, esgotam toda a matéria;
depois passa-se do uso de ridicularizar, através de brincadeiras ou chistes mais ou menos espaçados, a uma crítica totalmente negativa;
para terminar em um autêntico clima de confrontação, desvinculamento e oposição.
g ) Nos primeiros contatos do grupo insiste-se em que as reuniões não obedecem a preparação alguma, nem existem praticamente técnicas de ação. "Tudo é espontâneo, porque unicamente atuam os carismas do Espírito Santo". Contudo, as reuniões litúrgicas são preparadas com antecedência, de tal maneira que se algum dos assistentes pergunta ou propõe algum tema não previsto, silencia-se ou passa-se por alto.
h ) Ocultam a vinculação de uns grupos com outros, e negam a existência de dirigentes nesta corrente que atribuem unicamente ao Espírito Santo, de quem procede também sua enorme difusão em toda a Igreja.
i ) Unicamente os dirigentes dos grupos conhecem o conteúdo total da ideologia profética que vão deixando cair suavemente e com muita precaução, sobretudo nas primeiras etapas. Eles mesmos reconhecem que seus pontos de vista sobre a "nova Igreja" (o Batismo, a Confissão, e suas relações com o Magistério, o Papa, etc.) não são conhecidos senão por uma pequena parte dos membros de seus grupos.
4. Desenvolvimento e manifestações concretas
Holanda
O Centro "De Horstink", que foi até 1965 Centro Nacional da Ação Católica, abandonou o "mandato" para converter-se em um "Centro de Comunicações entre a Igreja e o Mundo", que realiza seu trabalho em colaboração com protestantes e ateus ( Grotaers, conferência citada, p. 11 ).
Itália
O "clericalismo político" – que dá à república um matiz confessional em virtude da concordata – freia a ação missionária. Nesta situação as vocações mais dinâmicas do apostolado leigo desvincularam-se da
Ação Católica, derivando para grupos de estrutura mais flexível, sem mandato, que proliferam de modo incrível ( Grotraers, conferência citada, p. 12 ).
Alemanha Oriental
As experiências são particularmente interessantes.
Existem em primeiro lugar os "Cristãos do Diálogo". São pequenos grupos de católicos que, abandonando a posição da Igreja institucional, e opondo-se à maioria dos católicos, assumem "a grande missão" de ocupar postos no governo e colaborar com o regime, numa tentativa de tornar compatíveis com o Cristianismo os pressupostos da sociedade comunista. Ao atuar deste modo, crêem cumprir uma missão histórica providencial.
Junto a eles, os grupos da "Gossner Mission", fortemente influenciados por Bonhoffer e pelos Padres-operários franceses da primeira hora, que pretendem demonstrar que se pode ser cristão e viver em uma sociedade socialista, e mesmo tornar-se comunista sem deixar de ser cristão. Negam que o comunismo tenha que ser necessariamente ateu. Combatem duramente o abstencionismo dos católicos fiéis ao magistério. O estilo de vida destes grupos está na linha de muitos outros do Ocidente. Celebram também a Eucaristia em casas particulares, por considerar superado o culto no templo.
Também os grupos "Studentengemeinden", formados por protestantes e católicos, dão prova de um grande "dinamismo" no mundo estudantil. Reúnem estudantes, futuros professores, humanistas e teólogos. Encontram-se, "como é natural", numa certa oposição à Igreja oficial. Seu compromisso implica em uma reforma teológica, especialmente nas relações Igreja-mundo, assim como na busca de novos caminhos na celebração litúrgica.
Paralelamente a estes grupos, as "Academias Evangélicas" põem em questão a tradição eclesiástica, em nome da "Igreja do amanhã". Em suas jornadas de estudo tratam de todos os problemas possíveis e imagináveis que tenham relação com o compromisso "com a nova sociedade".
Tanto estas academias como alguns centros católicos de pastoral tentam chegar a novas criações teológicas, partindo de considerações tais como "o Sacerdote como leigo e o leigo como teólogo" ( I.C.I., 15 de fevereiro de 1968, pp. 30 e ss. ).
Alemanha Federal
Diante de uma Igreja "afogada e enredada no contexto sócio-político em que está comprometida", surgem pequenos grupos que se esforçam em renovar as estruturas eclesiais e tirar os católicos de seu "comodismo espiritual e moral".
O movimento "Catolicismo crítico" ( chamado também "Kapo", oposição católica extraparlamentar ) nasce em 1968 do reagrupamento de várias associações, entre as quais "Pax Christi". Propõe-se como fim renovar e democratizar a Igreja. Seu pensamento se diz inspirado nas teorias do teólogo de Münster J. B. Metz, segundo as quais a Igreja deve desempenhar um papel crítico ante a sociedade.
Seus membros intervieram no 82º "Katholikentag", celebrado em Essem de 4 a 8 de setembro de 1968. Nele, sua crítica e sua ação – como a dos "grupúsculos" franceses do mês de maio nos meios estudantis - encontraram um terreno favorável. Unidos aos representantes da BDKJ ( Federação de Associações Católicas de Jovens, "antes conhecida por sua docilidade" ), pediram:
- a crítica em face da autoridade;
- a dissolução das relações Igeja-Estado;
- democratização do ensino e supressão do ensino confessional;
- contatos com o Leste;
- uma revisão fundamental, por parte do Papa, da doutrina sobre o controle de nascimentos, isto é, sobre a "Humanae Vitae";
- supressão do "imprimatur";
- supressão da regulamentação sobre os matrimônios mistos;
- mais democracia e publicidade na questão financeira das Dioceses;
- democratização da imprensa eclesiástica;
- substituição do "Katholikentag" por um Concílio nacional como o da Holanda;
- e criação de um "Kirchentag", organizado em comum com as igrejas protestantes.
O "Grupo 55" e o "Grupo de Munique" trabalham em silêncio mas publicam a revista mensal mais esquerdista do catolicismo alemão. É a "Werkhefte", "revista para os problemas da sociedade e do Catolicismo". Em agosto de 1968 organizou um colóquio com os marxistas.
Outro grupo é o dos "Universitários do Rühr". A paróquia de estudantes católicos de Bochum está muito unida aos protestantes. Um estudante de teologia diz: "Como nos é impossível dialogar com nosso Bispo, não resta mais do que uma solução: provocar a Instituição. Como? Pronunciando-nos a favor do Vietnã ou fazendo entrar a política na Missa".
Em outubro de 1967 fundou-se um "Grupo de trabalho democrático e católico" sob a presidência de um professor, um jornalista e um estudante. Este círculo propõe-se a democratização do pensamento e das estruturas da Igreja Católica, ou, ao menos – como diz Hans Friemund, que trabalha na rádio Berlim – "fazer ver a urgência desta democratização" ( I.C.I., nº 325, pp. 11-13 ).
França
A Igreja e a revolução
( I.C.I., nº 315, pp. 36-40 ).
Com base nos acontecimentos de maio os cristãos de esquerda acusam a Igreja institucional:
- de não se comprometer realmente com os acontecimentos;
- de não ser revolucionária, em virtude do fato de que "as Igrejas estabelecidas dão objetivamente apoio aos regimes capitalistas"; "sua estrutura é alienante".
Os "grupúsculos" organizam numerosos debates públicos sobre "os cristãos e a revolução". Um destes foi organizado em 8 de junho na "Sorbonne livre" pela Irmã Maria Edmon, auxiliar e diretora da revista "Echanges", a apedido do CRAC ( Comitê Revolucionário de Agitação Cultural ), sobre o tema: "De Che Guevara a Jesus Cristo".
A revolução na Igreja
( I.C.I., ibidem ).
Os cristãos de esquerda "contestam" ( protesto global ) as estruturas eclesiásticas; esta "contestação" reveste formas variadas, desde as extremamente revolucionárias até as mais "dialogantes":
1 – O movimento "Bíblia e Revolução":
- quer suscitar assembléias populares fora das horas de culto;
- pede "que um próximo Concílio se realize contando com a base";
2 – A federação dos grupos "Temoignage Chrétien":
Esta federação "alegra-se" de que haja "contestação" também na Igreja, e faz uma proposta concreta: a criação por eleição, em todos os níveis da comunidade cristã, de conselhos de leigos dotados de grandes poderes de organização e orientação.
3 – Assembléia celebrada na Igreja de São Pedro e São Paulo de Lille:
Formou-se uma equipe de trabalho com o fim de procurar novas estruturas que permitam descobrir as causas do mal-estar reinante na comunidade eclesial.
Uma vintena de cristãos, homens e mulheres, médicos, engenheiros, economistas, sociólogos, estudantes, catedráticos, convocaram uma assembléia tão heterogênea como numerosa para propor uma questão: - a Igreja é em Si mesma um obstáculo para o cumprimento de sua missão? Por que? De que modo?
O Pároco, apesar da oposição de uma parte do Clero paroquial, deu seu consentimento e o Bispo sua autorização.
O assistente da cadeira de Geografia da Faculdade de letras, Sr. Jean Pierre Angrand, abriu o debate e expôs o porquê e o como da assembléia. Partindo dos pontos que passamos a enunciar:
- "desde há trinta anos, e particularmente graças ao desenvolvimento dos movimentos de Ação Católica, nós, cristãos, estamos presentes no mundo, participando da vida social, econômica e política da nação";
- "esta presença permite-nos viver em contato com pessoas não crentes e com cristãos "marginalizados", que não praticam";
- "nós nos perguntamos: por que estes cristãos se acham nos limites ou fora da Igreja? Não haverá alguma causa dentro da própria Igreja ( administração, mentalidades, estruturas, de leigos e clérigos )?";
- "consideramos um dever vir hoje aqui para pôr a nós mesmos esta questão. Todos podereis intervir..., mas sem acusações ou pedido de justificação. Pedimos aos Padres que ouçam pacientemente sem dar resposta alguma, em nome próprio ou da Igreja. Nesta noite não vamos responder nada";
- "apresentaremos um dossier para refletirmos todos juntos. Vamos iniciar um trabalho de busca – que não se deve bloquear com perguntas prematuras – para ver a causa de nossas dificuldades";
- pouco a pouco foi-se analisando tudo: o quadro, já superado, da paróquia; os movimentos de Ação Católica dirigidos pela Hierarquia, cujas estruturas é preciso modificar para dar maior responsabilidade a seus membros; o compromisso temporal-político do cristão e da igreja como tal;
- "pode um cristão comprometer-se com um movimento político de extrema esquerda?" A isto se respondeu que "a Igreja deve comprometer-se muito mais";
- "põe-se em questão a estrutura piramidal da Igreja. Pede-se a participação dos leigos "na base", mas também nos postos mais elevados: Bispos e – por que não? – Papa";
- as opiniões estiveram muito divididas. Uns consideravam maravilhosa a assembléia; outros não;
- "é uma pena que este movimento de "contestação" não tenha existido antes, para influir no Concílio";
- "esta reunião – disse um pastor protestante – é perigosa, caso não se confie verdadeiramente na palavra de Deus...., porque se se trata só de pensamentos humanos, poderiam estes levar-nos longe demais";
- os dirigentes da assembléia prometeram um "cahier de doléances" da Igreja.
4 – Debate permanente organizado em Paris – durante os acontecimentos de maio – no "Centro de Saint-Yves" de estudantes católicos de Direito, dirigido pelos Dominicanos:
Na fachada, um grande cartaz: "Estudantes, trabalhadores, a revolução e os cristãos".
Participam dos debates abertos, da mesma forma que na Sorbonne, estudantes, jovens operários, pessoas de idade adulta e de diferentes ambientes, não crentes, e, às vezes, os transeuntes que ao passarem se interessam.
Fala-se: da atitude dos cristãos em face dos acontecimentos, das relações entre marxistas e cristãos, da necessidade da revolução.
Um antigo dirigente de movimento estudantil cristão se apresentou como revolucionário "par état" e denunciou ante os presentes:
- a alienação religiosa;
- o fato de que a Igreja é cúmplice do imperialismo e do capitalismo;
- falou da morte de Deus e proclamou que só importa "Jesus Cristo, morto e ressuscitado".
- "a Hierarquia não serve para nada, e o Papa faria bem em dizê-lo e ir-se embora", disse.
Um sacerdote disse também: - tudo pode ser "contestado" na Igreja, menos Cristo; assim como tudo pode ser "contestado" na sociedade, menos o homem.
Ouviram-se algumas intervenções por parte de cristãos sobre "os profundos traumatismos" provocados pelas "estruturas eclesiais superadas".
5 – Debates públicos no Instituto Católico de Paris:
Pediu-se que se desenvolvesse no Instituto Católico "um movimento em coerência com o movimento da Sorbonne", e mais geralmente "que fossem postos em prática, no interior da Igreja, os princípios que reconhecemos válidos para a "contestação" da sociedade".
6 – Grupos de estudantes da Faculdade de Teologia protestante de Paris:
Protestam contra:
- uma teologia que se centra exclusivamente sobre o ministério pastoral;
- que não faz mais que confirmar as contradições do sistema capitalista, do qual participa a instituição eclesiástica;
- põem em questão as estruturas da sociedade ( Igreja ) "que busca os quadros alienantes de que necessita para sobreviver" . Aprendemos isto nas barricadas, de um modo definitivo;
7 – Grupo ecumênico de catorze Sacerdotes, pastores e leigos de Paris:
Lançam um apelo aos cristãos propondo-lhes que "se agrupem segundo as iniciativas que julguem mais adaptadas e eficazes, para definir, na maior liberdade, e para criar as condições para esta renovação da existência cristã" ( I.C.I., nº 313-314, pp. 21 e ss. ).
Itália
Ocupação da Catedral de Parma ( I.C.I., nº 325, p. 13 ):
Os participantes explicaram assim o objetivo da ocupação:
- não queremos que a Igreja de Santo Evasio, atualmente em construção em um bairro periférico da cidade, seja construída com os fundos da Caixa Econômica ( Cassa di Resparmio );
- não aceitamos que um Sacerdote seja transferido sem consulta aos fiéis diretamente afetados;
- denunciamos o desequilíbrio existente nas situações econômicas respectivas dos Sacerdotes da Diocese;
- opomo-nos a que se continue a gastar dinheiro na manutenção do semanário católico diocesano, subproduto do clericalismo burguês;
- consideramos urgente reformar os seminários para que deixem de produzir Sacerdotes subcultos;
- constatamos com dor que estas situações intoleráveis são a conseqüência lógica da Igreja entendida como autoritarismo e apoio do poder constituído.
Chile
Ocupação da Catedral de Santiago do Chile ( 2 de agosto de 1968 ):
Uns duzentos cristãos, que se declararam membros do movimento "Jovem Igreja", celebraram a Eucaristia entre si e depois promoveram uma entrevista coletiva à imprensa.
No dia 13 de agosto os ocupantes explicaram o sentido de seu gesto, em um manifesto publicado no jornal comunista "El Siglo", sob o título: "As estruturas da Igreja impedem o compromisso com o povo e com sua luta".
O manifesto é um requisitório "contra a estrutura do poder de dominação e de riqueza, na qual se exerce freqüentemente a ação da Igreja, e contra a mentalidade das organizações que condicionam e adulteram o trabalho da Hierarquia Eclesiástica".
É ao mesmo tempo um arrazoado:
- em prol de uma estrutura evangélica,
- de uma igreja pobre, livre, aberta ao homem.
Tudo é objeto de crítica e "contestação" ( protesto global ):
- o Congresso Eucarístico,
- a viagem do Papa,
- as boas palavras a que não se seguem efeitos positivos,
- a convivência da Igreja institucional com os poderosos,
- a opressão da Igreja sobre as consciências,
- a condição do Sacerdote.
"Como não acreditamos nas possibilidades de diálogo na Igreja, recorremos a um gesto violento: a ocupação da Catedral".
México
Quarenta e oito organizações de leigos mexicanos pedem a reforma das estruturas e da autoridade da Igreja. "O estilo da vida católica não dá lugar à honestidade, à crítica, à discussão aberta e pública" ( I.C.I., 1º de setembro de 1968, p. 7 ).
Uma formação estudantil em escala mundial
( I.C.I., nº 313-314, junho de 1968, pp. 14-15 ).
Pequenas minorias de caráter "carismático" e "profético" arrastaram à agitação as massas de estudantes em todo o mundo.
Os diferentes pretextos de ordem material ou moral, que constituíam o ponto de partida desta agitação – falta de locais, falta de liberdade acadêmica, escassez de professores, protestos contra o racismo, a guerra do Vietnã, o autoritarismo do Estado, etc. - foram constituídos por um sentimento revolucionários mais geral: a "contestação" global da sociedade.
Esta "contestação" da sociedade civil inclui também a "contestação" das estruturas atuais da comunidade eclesial.
E isto ocorre também tanto nas Universidades católicas como nas Faculdades de Teologia católica e protestante.
Por toda parte, mas sobretudo na América Latina, os estudantes revolucionários adotam "uma forma de renovação marxista". Sem excluir os estudantes cristãos, que, como todos, chegaram a ver num marxismo renovado ( científico, mas recusando a ortodoxia de Moscou ) a única força viril capaz de afrontar a revolução.
Os cristãos, partindo da mesma análise da situação e das mesmas reflexões que os marxistas, passam a tomar parte nos mesmos compromissos.
Não crêem que seja preciso assumir "uma atitude cristã específica" perante os acontecimentos.
Não vêem contradição entre o marxismo científico e sua fé cristã. Pelo contrário, pensam que sua fé tomará neste combate revolucionário uma nova forma de expressão.
Entre eles há grupos que se separam praticamente da Igreja. Há movimentos de jovens cristãos comprometidos, nos quais já não se fala da Igreja, porque a Igreja não importa. Ainda que digam conservar a sua fé, não vêem já razão para permanecer nas comunidades cristãs.
Ante a recusa da Igreja de autorizar o compromisso político dos movimentos de estudantes cristãos como tais, os elementos mais dinâmicos destes movimentos saem da Igreja.
Na Europa as juventudes estudantis cristãs estão ainda absorvidas por suas relações jurídicas com a Hierarquia Eclesiástica, mas em alguns países ( entre os quais a Espanha ) começam já a refletir séria e abertamente sobre os problemas atuais de nossa sociedade.
Notas:
( 1 ) - I.C.I., no. 303, p 6, François Houtart: “É necessário descobrir, como fenômeno recente e em vias de aceleração, o aparecimento de pequenos grupos de leigos que às vezes tomam verdadeira importância, e se estabelecem fora dos quadros oficiais, sem vínculo orgânico com a Hierarquia, se bem que permanecendo dentro da Igreja”.
J. Grotaers: “Estruturas e comunidades vivas na Igreja pós-conciliar”, IDO-C, 15 de maio de 1967, p. 14: “Desde há vinte anos assistimos ao nascimento espontâneo de inumeráveis grupos de leigos que representam uma das formas do futuro do apostolado leigo em uma sociedade secularizada”.
( 2 ) - J. Grotaers: conferência citada, pp. 14 e ss.
( 3 ) - I.C.I., no. 303, p. 8, Gunnel Valquist: “Le réveil du prophétisme”: “Por toda parte tenho encontrado a mesma coisa: de um lado, a “jovem Igreja” ou a “nova Igreja”, representada por uma grande parcela de jovens, estudantes, operários e Sacerdotes. E, por outro lado, a “Igreja estabelecida”, com sua Hierarquia à testa, com muito poucas exceções, salvo o caso da Holanda, onde o Episcopado teve a coragem de assumir também a responsabilidade da jovem Igreja”.
( 4 ) - O Pe. Congar assinalou e refutou esta idéia em sua conferência “O apelo de Deus” dirigida ao III Congresso Mundial do Apostolado Leigo, celebrado em Roma em outubro de 1967. O texto integral desta conferência foi transcrito na obra de Congar “A mes frères”, Editions du Cerf, 1968, capítulo III, pp. 77-104.
( 5 ) - L. Evely : “Uma religião para nosso tempo”, pp. 27-28.
( 6 ) - L. Evely: obra cit., p. 31.
( 7 ) - Uma manifestação concreta e expressiva disto é, talvez, junto com o esquecimento ou desprestígio dos mártires cristãos, a exaltação dos “santos laicos”: homens sem fé, mas com uma “mística laica”, que os leva a entregar a vida por uma causa humana.
Alceu Amoroso [Lima], membro da Comissão Pontifícia Justiça e Paz, escreve em um artigo intitulado “A propósito das vítimas da violência: Camilo Torres, Che Guevara e Régis Debray (I.C.I., no. 301, p. 21): “Posso louvar sem receio o heroísmo destes três homens pouco comuns: um Sacerdote, um filósofo e um médico... Não posso negar que estas três vítimas da violência representam, em nossa época de pragmatismo tecnológico, não somente um exemplo do que há de mais puro na natureza humana, a saber: a capacidade de sacrifício por uma causa justa, mas também um protesto desesperado da dignidade humana contra o pessimismo, a falsa felicidade e a injustiça da civilização; contra a prosperidade fundada sobre a justiça”.
( 8 ) - J. Grotaers: conf. Cit., pp. 14-16.
( 9 ) - I.C.I., no. 321, pp. 11, 12, 13: “Os jovens irrompem no Katholikentag”. Ibid., no. 321, p. 13: “Ocupação da Catedral de Parma”, Ibid., no. 319, p. 7: “Ocupação da Catedral do Chile”. Ibid., no. 315, pp. 36 e ss.: “Les agitations de l’Eglise “contestatrice” à Lille”. Textos transcritos na Parte III – 4, deste estudo, “Desenvolvimento e manifestações concretas”.
( 10 ) - I.C.I., no. 319, p. 1, editorial: “A autoridade do Magistério pontifício é hoje objeto de veementes debates. Em vários países ouve-se falar de “crise de autoridade”. Nós não somos indiferentes nem alheios a esse debate. Parece-nos inevitável e sadio em uma Igreja viva”.
( 11 ) - I.C.I., n0. 313-314, p. 15: “Vêem-se até grupos destes cristãos que abandonam a Igreja, separam-se praticamente dela. Há movimentos de jovens cristãos comprometidos, nos quais já não se fala da Igreja, nos quais não se sente nenhuma angústia ante a situação da Igreja: estes cristãos se mantém fora dela; conservando ainda a fé cristã, não vêem nenhuma razão para permanecer nas comunidades cristãs”.
( 12 ) - G. Casallis, em I.C.I., no. 303, p. 8, cita a teoria de Robinson segundo a qual a Igreja deve aceitar a morte como realidade social “para participar do aniquilamento de Cristo”.
( 13 ) - Nicolás Boulte, presidente da JUC francesa, em “Le Monde”, 3 de novembro de 1965 (ver anexo nos. 1-2)
( 14 ) - L. Evely: obra cit. Pp. 27-29.
( 15 ) - Revista “Croissance des Jeunes Nations”, no. 67, p. 24.
Em um artigo de Georges Hourdin (diretor de I.C.I.) sobre “A justa violência dos oprimidos”, cita-se Arlino Souza (ex-coordenador de juventudes católicas).
Este, na revista “Tiempos Modernos” (abril de 1967), afirma: “Cristianismo e revolução são conciliáveis... Dever-se-ia poder ser comunista e cristão... Cristão e guerrilheiro? .... Por que não, se não há outro remédio?....”
No Uruguai a revista “Víspera” (janeiro de 1968), dos estudantes de “Pax Romana”, dedica quase dois terços de suas páginas a Che Guevara, à revolução e à guerrilha, e não para colocar-se contra isso”. (I.C.I., no. 306, p. 6).
“Carta aberta ao Papa”, da Confederação Latino-Americana de Sindicatos Cristão (CLASC): “Quanto à revolução, o ponto mais importante não é o da violência ou não violência; o que cumpre fazer, simplesmente, é a revolução, até suas últimas conseqüências”. (I.C.I., no. 321, p. 8).
Carta de oitocentos Sacerdotes do continente latino-americano ao Episcopado, pedindo “uma ampla margem de liberdade na eleição dos meios mais aptos para libertar os povos da violência passifa” (I.C.I., no. 321, p. 8).
Ver também Parte III – 3, deste estudo, “Manifestações concretas”: “França: A Igreja e a revolução. A revolução na Igreja”.
( 16 ) - J. Grotaers: conf. Cit., pp. 8, 11, 13.
( 17 ) - Exemplo disso é o caso da JEC/F francesa na crise de 1965. Os dirigentes que se demitiram para manter seus compromissos com a UNEF (União Nacional de Estudantes Franceses, integrada na Internacional marxista UIE) fundaram um movimento – a JUC – que se autodefiniu como “profético”. (Ver anexo no. 1).
( 18 ) - I.C.I., no. 315, pp. 36 e ss. (transcrito na Parte III – 3). O movimento “Bíblia e Revolução” pede que “um próximo Concílio se efetue contando com a base”.
( 19 ) - J. Grotaers: conf. cit. pp. 13 e ss.
( 20 ) - J. Grotaers: conf. cit., p. 9.
( 21 ) - L. Evely: obra cit., p. 28.
( 22 ) - L. Evely: obra cit., p. 28.
( 23 ) - I.C.I., no. 321, pp. 31-32. I.C.I., no. 319, p. 18. “La Vie Catholique Illustrée”, no. 1156, pp. 34 e ss.: “Ponho meu filho na escola leiga para que sua fé seja mais verdadeira. A constatação de outras confissões religiosas e do ateísmo em professores e alunos obriga-o constantemente a pensar na sua fé e depurá-la, reduzindo-a ao essencial”.
( 24 ) - “Fêtes et Saison”, agôsto-setembro de 1967, no. 217 (dedicado integralmente à preparação do III Congresso Mundial do Apostolado Leigo), p. 9.
( 25 ) - J. Grotaers: conf. Cit., pp. 14-16.
( 26 ) - J. Grotaers: conf. Cit., pp. 14-16.
( 27 ) - Ver parte III – 4, “Manifestações concretas”: “Alemanha Federal. Alemanha Oriental”.
( 28 ) - I.C.I., no. 303, p. 8 Marietta Peitz: “O problema das “duas Igrejas” se põe talvez mais na América Latina do que na Europa... No Peru encontrei um abismo trágico entre a Igreja hierárquica oficial, onipotente, e uma juventude que luta só e está só. Encontrei apenas dez Sacerdotes que compreenderam o que é a Igreja dos pobres: estão em oposição ao Núncio”.
Esta idéia esteve muito presente em determinados setores do III Congresso Mundial do Apostolado Leigo (Roma, outubro de 1968).
Em apoio desta teoria um dos textos mais utilizados é a recente obra de Hans Kung, “A Igreja”, especialmente o capítulo dedicado ao estudo da “Igreja carismática”.
( 29 ) - “Fêtes et Saisons”, agosto-setembro de 1967, no. 217, pp. 12 e ss.: “O essencial é amar, e ordenar o comportamento do amor. A moral conjugal não tem sentido para um casal que se ame verdadeiramente... O pecado é não amar”. I.C.I., no. 319, p. 25.
( 30 ) - Citado por Congar em sua conferência ao III Congresso Mundial do Apostolado Leigo (Roma, outubro de 1967).
( 31 ) - “Fêtes et Saison”, no. 217, pp. 14-18, e no. 218, p. 10. Inquérito: “Por que não querem confessar-se?”
( 32 ) - I.C.I., no. 305, pp. 32 e ss. Alemanha Federal: “Como nos é impossível dialogar com nosso Bispo, não nos resta mais do que uma solução: provocar a instituição. Como? Pronunciando-nos a favor do Vietnã ou fazendo entrar a política na Missa”.
( 33 ) - “Fêtes et Saisons”, no. 217, p. 35: “A Igreja tem falado demasiado à mulher resignação e sacrifício. O que supõe às vezes fugir ao esforço... Outros mestres aconselham hoje a esta que repudie a fé cristã, ligada a esses valores mais ou menos deformados”. A Igreja deve admitir uma solução para o problema dos casais separados, aceitando a possibilidade de que tornem a casar-se as mulheres abandonadas por seus maridos”.
( 34 ) - Roger Serrou: “Paris-Match”, no. 992, 13 de julho de 1968, pp. 88 e ss., “O Sacerdote de amanhã já está entre nós”. I.C.I., no. 315, p. 11. ( Retorno às figuras iniciais
( 35 ) - “Fêtes et Saisons”, agosto-setembro de 1967, no. 217, pp. 24-25.
( 36 ) - “Fêtes et Saisons”, agosto-setembro de 1967, no. 217, pp. 8 e 19, Roger Serrou: “Blanco y Negro”, no. 2946, 19 de outubro de 1968, pp. 36-56.
( 37 ) - I.C.I., no. 315, pp. 11, 38 e 39. Ver proposta da delegação filipina no III Congresso Mundial do Apostolado Leigo (Roma, outubro de 1968).
( 38 ) - J. Grotaers: conf. Cit., p. 14.
( 39 ) - L. Evely: obra cit., pp. 11 e 14.
( 40 ) - J. Grotaers: conf. Cit., pp. 8 e 16.
Fonte:http://www.pliniocorreadeoliveira.info/1969_220_221_CAT_IDOC_Grupos_Profeticos.htm#_Toc145662355
DR PLINIO FOI O CRUZADO DO SÉCULO XX - E CONTINUA PELAS SUAS OBRAS!
ResponderExcluirSobre o processo da “nova igreja”, parodia da Igreja Católica de Sempre, ele previu uma outra, essa a nosso ver que estaria sendo montada a martelo e foice nos porões do Vaticano, aquela das massas, estilo relativismo protestante das seitas para todos os gostos e estilos, acolhedora de todos, sem "discriminação", no estado em que se encontrem, na religião ou estado de vida - mesmo na sodomia,adulterios e noutras depravações - e que assim se mantenham e os acolhendo na Igreja sem "discriminação", pois pssuiriam muitas "coisas boas a se aproveitarem"…
O esquema subversivo a partir dos 1 a 6 do ARAUTO DA FÉ, DR PLINIO CORREA.
1 – Infiltrar-se neles.
É essencial; sem isso, nada feito, é o processo de implosão.
Lênin usou esse esquema e sempre deu certo, até hoje!
2 – Isto feito, recrutar ali o maior número de adeptos.
Sendo os convidados uns incautos, superficiais, atrairem gente interessante, moças simpáticas, lanches e coisas que lhes bajulem os sentidos!
3 – Em seguida, incutir nestes as doutrinas e o espírito da Igreja-Nova: é a fase de “formação”.
Demonstrarem as vantagens da misericordia, do perdão, do acolhimento, da tolerancias às diversidades religiosas, nivelando sutilmente o Divino Mestre Jesus à deusa da lua Alah, a Buda etc., saber conviver com o multiculturalismo, demonstrando as vantagens de ser compreensivo, compassivo, não fazer exclusão de pessoas, nem as marginalizar por causa de seus modos de vida anti cristãos…
4 – Tomar de assalto, ladinamente, quantos postos de influência ou de mando consigam; e dar assim projeção às personalidades que lhes convenham.
Agir como as esquerdas: surgiu a oportunidade, ocupe sem escrúpulos, tomando os postos de controle – mas demonstre que é misericordioso, democrata, aberto ao diálogo, detesta e reprova os ditadores e tudo quanto seja impostura…
5 – Isto feito, impor à Igreja, por meio da subversão, as reformas de doutrina, estrutura e disciplina que a transformem em Igreja-Nova.
Isso mesmo, provando que do jeito que a Igreja católica antiga agia, "excluía a muitos" - porém, não esses pecadores que se excluiam; que ser acolhedora é essencial!
Interprete textos como os protestantes: de acordo com as conveniencias de momento e, sendo desinformados, será fácil subvertê-los para serem induzidos aos erros, a todo satanicamente enganando.
6 – Consumar a vitória pelo expurgo, isto é, isolando, silenciando, difamando e, por fim, excluindo quantos não concordem com essa sinistra “renovação”.
Importantíssimo! Coloque a sentença de Lênin sempre á sua frente e sendo ríspido para se defender, valendo-se de quaisquer meios – apenas nessa hora esqueça a misericordia – e “chame os outros do que v é e acuse os outros do que v faz”; em breve teremos mais uma filial das milhares de seitas e, de repente, mais contribuintes para reforçarem o caixa, unindo o útil ao agradável e ao final a implantação da DITADURA DO RELATIVISMO-NOVA ORDEM MUNDIAL!