Por Giuseppe Nardi – www.Katholisches.info
(Roma) O Papa Francisco e seu predecessor Bento XVI estariam em desacordo: “Não se falam.” Esta é uma das novidades sensacionais relatadas pelo vaticanista Andreas Englisch, no dia 16 de março último, durante uma conferência realizada em Limburg (Alemanha).
A conferência do jornalista foi realizada na sala Josef Kohlmaier com o tema: “Francisco – um combatente no Vaticano”, com base em “Os segredos revelados” do jornal Nassauische Neue Post, segundo o que foi relatado, em sua edição de 18 de Março. Mas o cenário que foi aberto ao público por Andreas Englisch, sobre o que acontece nos bastidores do Vaticano, é muito mais sensacional do que o que foi relatado pelo artigo do jornal regional.
Francisco e Bento não se falam
O jornalista não faz segredo de sua simpatia pelo papa Francisco, uma simpatia que é bem conhecida por todos. Andreas Englisch sabe como cativar sua audiência! Sim, tem o caso de Monsenhor Tebartz-van Elst (bispo emérito de Limburg, obrigado a renunciar em 2014, acusado de levar uma uma vida luxuosa, NDT) [o caso do bispo de Limburg, link aqui], e que recebeu uma nova missão no Vaticano, onde foi relegado a um “posto de ofício” (de certa forma encostado). Sob o Pontificado de Papa Francisco, diz ele, não há mais lugar para aqueles que “se colocam acima dos ensinamentos de Jesus Cristo e que do alto de seus pedestais olham para baixo os simples fiéis”. Palavras fortes proferidas por Andreas Englisch com relação ao Papa, e do próprio Papa sobre um irmão no episcopado. Mas o que Andreas Englisch falhou em dizer é que para Francisco, aqueles que só prestam para “postos de ofício” não o são causa de suas “banheiras douradas”, reais ou imaginárias, mas por causa de sua visão de Igreja. A dimensão social, com seu mito de maior “compromisso com os pobres”, é bem acolhida por uma plateia de auditório, mas na realidade, significa bem pouco e serve apenas como uma cobertura.
Muito mais explosivo do que no caso de Limburg – por causa do escopo muito mais amplo – é o que Englisch revelou sobre a relação entre Francisco e Bento XVI. Segundo o jornalista, o papa reinante e o emérito teriam realmente brigado e não estariam mais se falando. E não é de ontem! E o que mais? Por sua própria admissão, Bento XVI não faz mais aparições públicas, exceto em resposta a um desejo expresso do Papa Francisco. Aquilo que é mostrado nestas raras ocasiões não seria, se levarmos em conta as afirmações de Andreas Englisch, outra coisa senão uma troca de gentilezas, em que os protagonistas fingem ser amigos. A razão para a divergência deveria ser pesquisada, de acordo com o jornalista, no caso de Limburg, no qual Bento teria saído em defesa do bispo Tebarzt-van Elst. No mínimo apenas mais um aspecto da história. Mas Limburg certamente não é a causa raiz de um racha tão profundo nas relações entre os dois papas.
Francisco “sabe o que quer” e faz “aquilo que ele quer”
O correspondente em Roma apresenta Francisco como tendo uma personalidade forte. “Ele sabe o que quer”, e dá a conhecer o que quer. Em vez disso, Bento seria “um bom teólogo”, mas já teria demonstrado uma “fraca capacidade de comando”. Durante décadas, a mídia alemã, quando falava do “inflexível Pantzerkardinal”, usava uma linguagem muito diferente. Desde sempre, buscando favorecer uma determinada direção, todos os meios pareciam benévolos, em maior ou menor grau. De qualquer modo, Bento XVI, de acordo com Englisch, deixou que muitas outras pessoas tomassem as decisões, enquanto Francisco faz “o que ele quer.”
Se analisarmos até as últimas consequências as declarações de Englisch, chegaremos à conclusão que Francisco e Bento XVI têm muito pouco em comum. Em suas aparições públicas, tudo se resumiria a um papel de mera aparência que o papa reinante usa como fachada e faz o emérito entrar em cena, quando necessário. Neste contexto, a ausência de Bento durante o último Consistório de 19 de novembro de 2016 adquire uma nova dimensão.
As promoções cardinalícias fazem parte dessas poucas ocasiões em que o papa reinante convidou seu predecessor para uma cerimônia pública. Após a criação de novos cardeais em 2014 e 2015, Bento XVI fez uma aparição pública na Basílica de São Pedro [mais]. Mas, durante o último consistório ele estava ausente; e Francisco reuniu os neo-cardeais com Bento, sem muitas formalidades, no mosteiro Mater Ecclesiae. Evidentemente, também truncando já desde o início, de acordo com Englisch, possíveis inferências. Obviamente Francisco suspeitava que a ausência de Bento poderia ser um gesto demonstrativo [ver e aqui]
As pressões sobre a renúncia de Bento XVI
A cronologia dos acontecimentos, de todo modo, não nos leva a pensar em uma simples visita de cortesia – como o Vaticano apresentou o evento -, mas contém algo de explosivo. Cinco dias antes do consistório, quatro cardeais, Brandmüller, Burke, Caffara e Meisner, haviam publicado seu dubia sobre a controversa exortação pós-sinodal Amoris Lætitia, já que depois de dois meses o Papa Francisco ainda não havia lhes dado nenhuma resposta. Com o dubia, eles se opuseram frontalmente a Francisco, que desde então está procurando deixar morrer o assunto, forçando seus colaboradores e apoiantes mais próximos a uma esgotante ginástica verbal. Francisco pode até prolongar o seu silêncio, mas não conseguirá deixar de sair enfraquecido pelo conflito, aparecendo como um papa que se recusa a responder perguntas sobre as principais questões de fé e moral. A mancha em sua imagem aparecerá como uma sombra sobre o seu pontificado.
O fato é que Bento XVI deixou o campo livre, um campo que a equipe de Bergoglio (produzida pelo secreto clube St. Gallen) tem ocupado como um verdadeiro Estado Maior, sem pensar, de fato, em uma possível evacuação.
Giuseppe Nardi
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