Jornalista e Escritor Antonio Socci: Caro Papa Francisco, mas por que o senhor homenageia os tiranos e humilha os perseguidos?
23.09.2015 -
Os irmãos Castro — uma dinastia comunista – mantêm sob o calcanhar o povo cubano há quase sessenta anos e sem nenhum escrúpulo para que esse regime sobrevivesse, mesmo depois do naufrágio da URSS.
E, de fato, nesses últimos dias eles o demonstraram bem. Com o tácito consentimento do Vaticano de Bergoglio, transformaram a missa do papa argentino desse último domingo em uma manifestação do Partido Comunista Cubano.
Não só pelo pôster gigante de Che Guevara que colocaram sobre o altar (não ousaram fazê-lo com Bento XVI e nem com João Paulo II, que os fez colocar um grande ícone de Cristo) como também pelo fato de que houve uma verdadeira convocação oficial dos membros e militantes do partido para a missa na Praça da Revolução em Havana, como se fosse um dos comícios de Castro.
Assim escreve Alver Metalli, jornalista bergogliano e amigo pessoal do bispo de Roma: “O Partido Comunista de Cuba convocou seus membros para assistir à missa papal na Praça da Revolução em Havana, a missa de Holguín, a missa no Santuário da Virgem de la Caridad del Cobre e a Missa em Santiago de Cuba antes da despedida de Francisco da ilha”.
Certamente não foi assim que ocorreu com João Paulo II em 1998 e nem com Bento XVI em 2012.
No entanto, “desta vez”, escreve Metalli “o convite foi explícito e imperativo”, para que “os comunistas leais à linha do partido … manifestassem com calor a sua aprovação.”
A única que foi capaz de se eximir – graças a seu sobrenome – foi mesmo a filha de Che Guevara, vetero-comunista pura e dura, que não se comoveu nem um pouco com o fato do retrato do pai ter sido colocado no lugar de Jesus Cristo.
Aleida Guevara, militante comunista ultra-ortodoxa, declarou à agência France Press: “O PCC pede aos militantes para irem à missa, para ir receber o Papa Francisco quase como se fosse um dever do Partido. Algo com o qual eu não concordo de modo algum”.
Mas se os camaradas dirigentes tomaram a decisão de “arrebanhar” os militantes para a missa como se fosse para um comício, isso se deu por uma razão bem clara: eles sabiam que da parte do Papa Bergoglio nada tinham a temer.
No entanto, não foi assim com João Paulo II, que de fato em Havana, no dia 25 de janeiro de 1998, trovejou: “Alguns desses sistemas tiveram a pretensão de reduzir a religião à esfera meramente privada, despojando-a de qualquer influência ou importância social. Neste sentido, vale lembrar que um Estado moderno não pode fazer do ateísmo ou da religião um dos seus sistemas políticos”(princípio que se aplica tanto aos estados comunistas, como para os islâmicos).
Também com Bento XVI, em 2012, o Partido Comunista Cubano sabia que tinha o que temer. De fato, já em sua chegada disse, “quando Deus é expulso, o mundo se torna um lugar inóspito para os seres humanos”.
E sua homilia na Praça da Revolução foi inspirada na primeira leitura, onde “os três jovens, perseguidos pelo governante da Babilônia, preferiram enfrentar a morte na fornalha, do que trair a sua consciência e sua fé … na convicção de que o Senhor do Cosmos e da história não iria abandoná-los à morte e ao nada. Na verdade, Deus nunca abandona os seus filhos”.
Depois, comentando o Evangelho, ele lembrou que “a verdade nos liberta” e concluiu: “não hesitem em seguir Jesus Cristo.”
Em vez disso, Bergoglio, o Papa de um Deus que – segundo diz ele – “não é católico”, poderia ter, de acordo com Castro, uma platéia de militantes do partido. De fato, ele não disse absolutamente nada que fosse inconveniente para a ditadura cubana.
Pelo contrário, ao longo de sua homilia, ecoou temas da retórica comunista como fraternidade e servir os excluídos.
APLAUSOS DO REGIME
Não houve uma só palavra que poderia incomodar o regime. Os jornais italianos até tentaram fazer referência a uma piada dita durante a homilia como uma crítica vaga, mas que não passou de um mal-entendido retumbante.
Vejamos: segundo o Corriere della Sera, o papa em sua homilia “, adverte contra as ideologias”. A manchete de La Repubblica diz : “servir o povo e não às ideologias”. Na primeira página de La Stampa, se lia: “Nós servimos o povo e não as ideologias”. E no IL Giornale se dizia ainda pior: ” As ideologias não servem.” E em Il Fatto: “Digamos basta às ideologias”.
Se naquela homilia Bergoglio tivesse dito estas coisas, ainda assim teria manifestado um conceito perfeitamente aceitável para um marxista, já que foi o próprio Marx que propôs destruir o conceito de “ideologia” por considerá-la “falsa consciência” e por sustentar – em sua obra “A ideologia Alemã “- que não se parte de idéias, mas de homens vivos. “Se parte de homens realmente vivos e atuantes e com base no processo real de suas vidas “. Ele defendia que, por isso mesmo a
“moral, a religião e a metafísica” são formas ideológicas.
Por outro lado, Bergoglio não disse o que os jornais lhe atribuem. O que ele fez foi uma exaltação do ativismo solidário que para qualquer militante do Partido Comunista Cubano soou apenas como uma confirmação, e não como uma contestação.
Na verdade, ele convidou-os a por “ao centro a questão do irmão: o serviço olha sempre o rosto do irmão (…) e visa a promoção do irmão. Por esta razão, o serviço nunca é ideológico, já que busca servir não à idéias, mas a pessoas “.
Para o Partido tal conceito é muito bom: é quase uma canonização da militância socialista. Como se vê, não há nenhum ataque ao regime e ao marxismo.
Teria sido diferente se Bergoglio tivesse falado de “servir a Deus”, mas nem sequer mencionou isso. Nem tampouco advertiu contra “servir o partido.” Nada disso. De Bergoglio não se ouviu sequer menção em defesa dos direitos humanos (também atropelados durante a visita papal com vários aprisionamentos). Não se viu também o Bergoglio indignado do discurso de Lampedusa, nem o Bergoglio que durante meses trovejou contra o capitalismo como “a economia que mata.”
Aparentemente, o comunismo não mata. Sobre o Comunismo cubano (e outros), ou sobre seus desastres econômicos e humanos nenhuma denúncia. Absolutamente nada. Mas será que temos mesmo a certeza de que o comunismo não mata?
Talvez o comunismo faz tudo isso sem que Bergoglio o saiba. O papa argentino seria o único em todo o planeta que não foi informado sobre nada disso.
HOMENAGEM AOS PERSEGUIDORES
Mesmo o magistério dos gestos confirma aquele das palavras. Tomemos por exemplo o encontro de Fidel Castro com João Paulo II, que obteve preventivamente a libertação de centenas de prisioneiros. Castro recebeu o pontífice aos pés da escada do avião, onde o tirano teve que renunciar às divisas militares e vestir-se apenas de terno e gravata para a ocasião.
Bento XVI, que visitou Cuba em 2012 também foi com uma lista dos perseguidos a serem libertados e recebeu Castro na Nunciatura Apostólica em Havana como um sinal de respeito para com os fiéis oprimidos por meio século e para que não desse a impressão de que o Vigário de Cristo estava prestando uma homenagem ao tirano.
Bergoglio por sua vez, se dirigiu à residência de Fidel e ali o encontrou: o Papa foi recebido por Castro, não o contrário. Uma homenagem ao ditador.
E HUMILHA OS PERSEGUIDOS
Com os jóvens, logo em seguida, Bergoglio foi verdadeiramente constrangedor. Ele mencionou Jesus Cristo só ao final de um longo discurso, e mesmo assim marginalmente, depois de toneladas de retórica vazia sobre sonhos e sonhar, sobre a “fofoca” e contra “o deus do dinheiro”.
Mas, acima de tudo, Bergoglio – ao falar aos jovens católicos que sofrem a opressão do regime – ao invés de confortá-los e elogiar aqueles que heroicamente testemunham sua fé sob a ditadura, fez o oposto: ele atacou os católicos que – segundo ele – se fecham “em uma camarilha de palavras, de orações, “eu sou o bom, você é mau “e de prescrições morais”.
Ou seja, ele atacou os católicos de verdade, já perseguidos pelo regime. E depois os convidou à “cultura do encontro”, elogiando aqueles que colaboram com o “camarada comunista ” ou de outra religião “, trabalhando juntos para o bem comum”. Porque “a inimizade social, destrói”.
Na prática, um convite para que se rendam ao regime.
Por Antonio Socci - Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum.com
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